quarta-feira, 27 de março de 2013

A greve


Por mais que se gaste o argumento de que paralisações de trabalhadores tenham fundo jurídico ou administrativo, qualquer greve sempre será um ato político. Acima de tudo, provoca consequências políticas, para todos os lados envolvidos. É o caso da paralisação dos servidores públicos de Santos, que aconteceu na terça-feira, dia 26.

A última greve aconteceu no governo David Capistrano, em 1995, e durou 29 dias. Na cidade, hoje são cerca de 10.500 funcionários públicos. A categoria segue em estado de greve desde o dia 7 e aprovou parar o trabalho depois de a Prefeitura estacionar na proposta de 1,5% de aumento. Os trabalhadores pedem 16,2%, como reposição da inflação mais perdas de outros anos.

A administração municipal ofereceu também cesta básica de R$ 134,85 para os servidores de nível P, além de acréscimo de 0,25% ao ano na Caixa de Pecúlios. A Prefeitura fala em déficit de R$ 40 milhões nos cofres.

As causas e as consequências de uma greve ultrapassam a matemática. Greves nascem da incompatibilidade política entre os lados do balcão de negociações. Brotam da incapacidade de diálogo, que inclui – perversamente – a manipulação e dominação de uma das partes. Desenham um cenário de muita cortina de fumaça, blefes e especulações, que engolem – inclusive – a dança de números.

A greve dos servidores municipais representa mais um pedaço do abacaxi que o prefeito Paulo Alexandre Barbosa tem que descascar no início de sua gestão. As comparações com os antecessores se tornaram inevitáveis. João Paulo Tavares Papa nunca foi um excelente pagador, muito menos o atual deputado federal Beto Mansur. Tanto que centenas de professores largaram a cidade para trabalhar em municípios vizinhos, menores em tamanho, melhores em remuneração. E os médicos? Vagas se multiplicavam, enquanto os profissionais atuavam em outros endereços.

Mansur passou anos sem reajustar os salários da categoria. Papa vestia-se como hábil negociador. Era a velha tática do comerciante. Jogava com o índice de aumento abaixo do limite e encarava a alta pedida dos sindicatos. Chegava ao meio termo, geralmente na faixa de 6%, e todos ficavam aparentemente satisfeitos.

Paulo Alexandre Barbosa também patinou ao não conter a língua de alguns integrantes do governo, que tentaram responsabilizar o antecessor pela bagunça financeira da administração. Criou-se o diz-que-me-diz, que – na prática – alimenta a impressão de dor de cotovelo. O passado, nestes casos, costuma permanecer enterrado. O funcionalismo quer respostas de quem se sentou na principal cadeira da Prefeitura, e não discutir o sexo dos anjos com quem já entregou o boné.

Outro problema é o passado político do PSDB no Governo do Estado. O partido ganhou fama (justa, aliás) de pagar mal o funcionalismo público. Professores apelidaram o vale-refeição de “vale-coxinha”. O próprio Paulo Alexandre Barbosa enfrentou questionamentos públicos por conta dos baixos salários nas escolas técnicas. E a vergonha de policiais quando revelavam o valor dos holerites em tempos de crise por conta de grupos como o PCC?

Oferecer reajuste de 1,5% soou como provocação, nas palavras de sindicalistas à imprensa. Simbolicamente, o índice demonstra, diante de comparações com salários das dezenas de funcionários indicados para chefias, o olhar da administração municipal para o funcionalismo de carreira. A resposta, por enquanto, também é simbólica: uma greve, algo que não se via há 18 anos em Santos.

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