sexta-feira, 22 de março de 2013

Inferno astral


Os primeiros cem dias de governo costumam ser uma lua-de-mel. Os novos casamentos incluem paciência do eleitor, conivência da classe política, certo relaxamento da oposição e até perdão da imprensa, que digere a desculpa do tempo de adaptação ao funcionamento dos intestinos do poder. 

Em Santos, o prefeito Paulo Alexandre mal disse sim e já enfrenta crises no relacionamento, com parentes aliados, com novos vizinhos e até com padrinhos, cuja amizade remonta ao passado de feliz adolescência política.

As pancadas começam dentro de casa. Para atender a fome de poder de primos, sobrinhos e outros sujeitos cujo parentesco vai até quarto, quinto graus, Paulo Alexandre sacramentou uma lista de convidados. Brotaram dezenas de coordenadores e secretários-adjuntos, muitos deles em cargos distantes de suas profissões originais, o que acendeu a luz amarela até da turma da imprensa amiga.

Como o inimigo às vezes divide a mesma cama, ou o mesmo gabinete, o prefeito sentiu também o cheiro das feridas reabertas no partido dele. As cicatrizes tucanas, que pareciam velhas marcas por conta de uma vitória nas urnas, sangraram novamente, desta vez como chororô de quem ficou sem pedaço de bolo no final de festa de casamento.

A promessa é que tudo se resolveu na cozinha antes do buffet fechar o expediente para balanço. Qual preço pagaremos por causa de pratos e copos quebrados depois de desavenças atrás das cortinas do salão?

Além do incêndio dentro de casa, o prefeito saiu chamuscado ao incinerar uma das principais promessas de campanha. Durante o processo eleitoral, Paulo Alexandre Barbosa prometeu ressuscitar o maior elefante branco da área de saúde. Por erros primários de planejamento de equipe – voluntários ou não -, adiou a reabertura do hospital por mais dois anos. Todas as pesquisas indicavam que a maior preocupação dos eleitores era a saúde.

O anúncio do adiamento veio em um pacote que inclui a compra de leitos na Santa Casa – sempre superlotada – e na Beneficência Portuguesa. O presidente da Beneficência é vereador da base do governo e estava sentado ao lado do prefeito no momento da má notícia. Claro, para a população. A imagem acendeu outro tititi dentro das oficinas das costureiras políticas.

Até as comemorações, quando se permite guardar esqueletos nos armários, viraram um peso extra nas costas do prefeito. O Carnaval acabou um dia antes pelas mortes nas imediações na passarela do samba. O caso fechou um Carnaval a ser esquecido, com início na praia, depois que um garoto de nove anos quase morreu eletrocutado em uma das tendas. O tempo tenta esfriar gradualmente estas histórias, que merecem apuradas com rigor.

Quando o casamento balança, até os amigos atrapalham. E mancham a imagem do noivo quando desenterram cadáveres de relacionamentos antigos. Paulo Alexandre viu seu nome ser arrastado para as investigações contra seu ex-chefe e mentor político Gabriel Chalita. O deputado federal e ex-secretário estadual de Educação é alvo de uma dúzia de inquéritos por parte do Ministério Público. O prefeito de Santos jura que amigos, amigos, negócios à parte, mas - no mundo da política – boatos costumam ser mais velozes que fatos. 

A vizinha São Vicente pode servir de consolo ao novo administrador de Santos. Lá, nem a lua-de-mel foi programada. Mas o prefeito Luiz Cláudio Bili já sabia do calor das chamas assim que se elegeu. Em Santos, o prefeito parecia encantado com o canto dos anjos; na verdade, uma miragem que se esfarelou no deserto do purgatório. Neste caso, nem reza para santo casamenteiro ajuda.

2 comentários:

  1. Parabéns pelo texto amigo ..... excelente. E o prefeito Paulo Alexandre infelizmente ainda não disse a que veio ..... foram muitas promessas e ate agora nada ... espero não me arrepender de ter votado nele. Como funcionario publico estou consternado com o aumento de 1,5 % oferecido. Existem videos mostrando ele prometendo um aumento superior a inflação e em fevereiro na data base. Agora dizem que o problema é a situação financeira mas ele pode ver isso ainda no final do governo anterior. Forte abraços Marcão

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