sexta-feira, 5 de abril de 2013

Cartada de mestre


A nomeação de João Paulo Tavares Papa para a diretoria de Tecnologia, Empreendimentos e Meio Ambiente da Sabesp não representa apenas o retorno do ex-prefeito à empresa onde exerceu o primeiro cargo de destaque, há 20 anos. É a confirmação de que Papa se constitui no maior vencedor político das últimas eleições. 

Se Paulo Alexandre Barbosa ganhou nas urnas e, em três meses de governo, coleciona obstáculos, o ex-prefeito parece ter o controle das peças no tabuleiro. Cada passo é pensado e executado de maneira meticulosa, como qualquer estrategista político que se preze.

Perceba que me refiro ao político, e não ao administrador. A cidade quase andou no piloto automático na segunda gestão. A Prefeitura lavou as mãos para a transformação urbana e a especulação imobiliária. Papa não mexeu – sequer blefou – com o monopólio do transporte coletivo. O trânsito nos presenteia com o lado perverso das metrópoles. Na área social, mais de 600 pessoas moram nas ruas, muitas dependentes químicas.

Um ano atrás, o noticiário político cutucava o suposto mau relacionamento entre o então prefeito de Santos e Geraldo Alckmin. Papa recebia, por exemplo, convites em cima da hora para eventos com a presença do governador. Os mais apressados diziam que as rusgas eram previsíveis por conta da candidatura de Paulo Alexandre.

O primeiro ato apenas se desenhava. Quase sempre em silêncio, quando não por meias palavras, Papa segurou até onde pôde a definição do candidato à sucessão. Sérgio Aquino fazia parte, no mínimo, de uma lista tríplice de especulações.

Enquanto isso, Paulo Alexandre Barbosa disparava na frente, apoiado – ainda que parcialmente - em um discurso de continuidade e sem atacar a administração municipal. E não negava a imagem de ser um candidato do governo. Até porque o PSDB, de fato, pertencia à base do prefeito. O então vice e secretário de Assistência Social, Cacá Teixeira, por exemplo, era do partido e se elegeu vereador. Quando Aquino entrou na corrida, era tarde demais. Mesmo com a presença de Papa na campanha e triplicando os números das pesquisas, Aquino ficou em terceiro lugar.

Depois da eleição, o ex-prefeito pouco se expôs. Deu as tradicionais entrevistas de balanço, auxiliou o sucessor na transição e deixou o governo com a popularidade elevada. Manteve a quarentena de praxe e não caiu nas armadilhas da retórica do atual que culpa o anterior. Mais do que isso: Papa reapareceu na hora em que Paulo Alexandre enfrenta o pior momento, numa volta às origens e convidado pelo governador Geraldo Alckmin.

João Paulo Tavares Papa sempre demonstrou fome de aprendizado. Teve um grande professor, Osvaldo Justo. Nunca se expôs a escândalos pessoais. A vida privada sempre foi discreta. E absorveu que – na arte da política – o silêncio das sombras produz mais frutos do que os holofotes.

Voltemos ao ano de 2004. Papa convenceu Beto Mansur a apostar em um novato, em um técnico sem experiência eleitoral. A cidade ficou dividida e Papa venceu Telma de Souza por 1771 votos. Assim que pôde andar com as próprias pernas, a criatura abandonou o criador. Papa se afastou de Mansur, que apresenta altos índices de rejeição. A última eleição para prefeito que o diga! Quatro anos depois, Papa venceu no segundo turno com a maior votação proporcional da história de Santos, numa coligação recorde de 19 partidos.

João Paulo Tavares Papa, como político, segue silencioso. Muitos, dentro do mundo da política, acreditam que ele mostrará as cartas no momento certo. Em 2014, teremos eleições legislativas. A previsão óbvia é que Papa, invicto nas urnas, se candidatará a deputado. As apostas variam somente no CEP. João Paulo pretende subir a serra ou morar em Brasília?

Nenhum comentário:

Postar um comentário