Uma amiga tentava voltar para Santos num final de tarde de muita chuva. Ela estava em São Paulo e entrou no metrô, na Estação Barra Funda. Como sabemos, os temporais desta época do ano provocam congestionamentos, entopem as estações, praticamente paralisam a metrópole.
Ela levou cerca de meia hora para entrar em um dos vagões, lotado como caminhão de gado rumo ao abatedouro. Quando conseguiu se segurar em uma das barras, viu-se cercada por três homens. Do sujeito em frente, protegeu-se com a bolsa. Do homem à esquerda, usou o braço para manter distância mínima. O problema foi o terceiro – e justamente esse era o mal intencionado -, que estava atrás, perto de uma das portas.
O sujeito nitidamente se encostava nela e tentava acompanhar de forma sincronizada os movimentos do trem. Prefiro poupar o leitor dos detalhes sórdidos, mas não havia como ela fugir do encoxador. A única chance foi sair na estação seguinte, contando a ajuda de outra mulher que gritava e pedia passagem.
Segundo a própria empresa que administra os trens, é possível identificar até 30 encoxadores por dia. Eles se vestem de bermuda de tactel, blusas de mangas compridas, muitas vezes não usam cuecas e andam com um agasalho na frente.
A situação não é prerrogativa do metrô de São Paulo. Isso acontece em trens cariocas e em ônibus aqui, em Santos. Por conta disso, a Prefeitura lançou a campanha “Mantenha distância, não abuse” para tentar diminuir o comportamento libidinoso no transporte coletivo. Há, inclusive, um telefone para denúncias: 180.
A diferença é que, na principal cidade da Baixada Santista, não há um perfil-padrão dos covardes. Muitos deles, segundo uma amiga-passageira que já foi vítima dos tarados, são “velhos de pau mole”. Com o perdão dos adjetivos, o problema alcança todas as faixas etárias a partir da adolescência, tanto para agressores como para vítimas.
É óbvio que os encoxadores não têm idade específica ou comportamento. São oportunistas sem vergonha, dispostos a esfregar as coxas ou até os braços e joelhos, com a cara de surpresa quando recebem uma reação agressiva – e justa – das vítimas.
O comportamento dentro dos ônibus representa uma derivação não apenas criminosa, mas também perversa que se tem das mulheres. Muitos homens se julgam no direito de compreendê-las como objetos de uso sexual, porém não tem a coragem de assumir que as enxergam desta forma. Escondem-se justamente na multidão de um ônibus lotado.
Tais sujeitos, quando resolvem encoxar uma mulher dentro do transporte coletivo, reproduzem a visão recorrente de que a mulher existe como elemento de propriedade masculina, nascidas para servir, vivas para saciar o apetite dos senhores. No entanto, falta-lhes a virilidade de enfrentar – como homens – as consequências de seus atos. Tentam tomar o lugar da vítima quando descobertos. Elas que provocaram, juram.
A campanha tem que ser levada a sério. Mais do que ser denunciados, os encoxadores devem responder criminalmente por abuso sexual, atos libidinosos ou variações jurídicas semelhantes. Precisamos colocar nos holofotes do debate público, inclusive, aqueles que defendem que mulheres estão ali para serem encoxadas, como se as vítimas pedissem por sexo pelas roupas que vestem.
Mulheres não são cabides para covardes se pendurarem. Eles desconhecem a primeira lição: para tratar uma mulher com o respeito e a igualdade que ela merece, é preciso ser Homem!
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