sábado, 14 de março de 2015

Cidades (quase) paradas


Foto: Luiz Torres - Diário do Litoral

Vamos a três episódios cotidianos, caro leitor. 1) Na última quinta-feira, por causa da chuva, tive que trabalhar de ônibus. Peguei a linha 5, que passa pelo canal 5, vai até o Gonzaga, depois entra no canal 3. Levei 50 minutos para chegar ao trabalho, um trecho de cinco quilômetros. De bicicleta, levo menos da metade do tempo, ainda que parte do caminho não tenha ciclovia. 

Um agravante: o congestionamento tomava as duas pistas da avenida Washington Luiz, entre a Avenida Francisco Glicério e a orla da praia. No segundo semestre do ano passado, a CET se envolveu em polêmica com moradores e comerciantes porque decidiu suspender o estacionamento em parte do canal 3. Medida paliativa para um doente crônico.

2) Na última quarta-feira, fui a São Vicente no final da tarde. Em 30 minutos, sai do Boqueirão, em Santos, e cheguei ao centro da cidade vizinha. Passei mais 45 minutos para cruzar seis quadras no Centro de São Vicente.

3) Recentemente, estava com minha mulher Beth no ponto de ônibus, esquina da rua Carlos Gomes com canal 1, no Marapé. Ambos tínhamos compromisso no bairro do Boqueirão. Por conta do congestionamento no curvão, preferi ir à pé. Cheguei em 50 minutos. Ela esperou pelo ônibus. A viagem durou uma hora e meia.

Não importa o endereço, as principais vias de Santos e São Vicente sofrem com os congestionamentos diariamente. Não é à toa que, de dois anos para cá, emissoras de rádio passaram a informar com regularidade sobre tráfego pesado, onde evitá-lo, alternativas e outras informações antes particulares de São Paulo.

Nos últimos anos, as Prefeituras, através de seus departamentos de trânsito ou empresas como CET, optaram por ações isoladas, sem compreender o problema de trânsito e transporte como metropolitano. E sem avaliar a ineficácia do modelo carro como ator principal. Projetos enterrados como o patético mutirão da carona. Ou atos como reduzir áreas de estacionamento, o que – em diversas circunstâncias – fazem com que os automóveis rodem mais tempo para procurar uma vaga.

Quando não dão aspirinas para um doente terminal, as Prefeituras fazem Carnaval com projetos megalomaníacos. O filho mais corado é o VLT, projeto que começou metropolitano, hoje é um objeto de decoração em São Vicente e uma pista de corrida em Santos. Nem o traçado foi definido. Alguém acredita que a obra estará pronta no prazo da propaganda?

Se há ciclovias se espalhando pelas cidades da Ilha de São Vicente, as administrações não mexem com o monopólio do transporte coletivo. E pior: como o transporte intermunicipal é de responsabilidade do Governo do Estado, ambas fazem silêncio sobre o problema.

Vamos assistir – paralisados – à vida dentro de um carro ou dentro de ônibus? Vamos aceitar que congestionamentos são o preço da ilusão-progresso? Onde está a cidade que se apoia em pesquisas de marketing para afirmar que é a primeira do país em qualidade de vida?


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