Ao decretar luto de três dias e informar que paralisaria sua campanha pelo mesmo período, a presidente Dilma Rousseff deu o recado. É necessário dar a devida atenção aos funerais, reforçar os sentimentos aos familiares de todos os envolvidos. É um cessar-fogo numa campanha eleitoral mais curta e que dava sinais de que começava a esquentar. Os candidatos à presidência deram entrevistas aos principais canais de TV. O horário eleitoral entrará no ar no dia 19.
Por outro lado, analistas e a própria classe política não podem abrir mão, mesmo que discretamente, das perguntas: como vai ficar a campanha eleitoral? Quem vai substituir Eduardo Campos?
Se muitos políticos bem mais velhos não deixaram herdeiros ou não se preocuparam em formá-los, como esperar um sucessor político de um candidato que estava no auge da carreira, aos 49 anos? Em Pernambuco ou no PSB, onde era a maior liderança, não há substitutos. Campos era visto como um menino prodígio, maior herdeiro – ainda com diferenças ideológicas – do avô Miguel Arraes, um mestre na política.
Eduardo Campos, provavelmente, não seria eleito, mas deixaria o próprio nome mais sólido para a campanha presidencial em 2018. Ele tinha afirmado, esta semana, que a campanha nacional era um grande aprendizado, diferente das corridas regionais que o levaram ao Governo de Pernambuco. A disputa nacional tinha menos corpo a corpo, menos caminhadas e mais discussões, reuniões, eventos de caráter regional, que pudessem aglutinar lideranças políticas.
Na coligação em torno do PSB e mesmo dentro do partido, não há nomes disponíveis para uma campanha com apenas 45 dias de duração. Nomes conhecidos, que não dependam de uma construção de imagem do zero. Corrigindo, dentro do partido (e por um acordo único), há Marina Silva. O PSB tem dez dias para decidir se terá outro candidato, comunicar os demais partidos da aliança e aguardar as aprovações regionais da decisão.
Segundo analistas políticos que acompanham de perto a campanha, Eduardo Campos e Marina Silva tinham boa relação e lidavam bem com as diferenças ideológicas e de programa de governo. O problema está entre as patentes mais baixas, com a inadequação de membros da Rede dentro do PSB. A turma da Rede é vista com mal necessário, aqueles parentes agregados em um casamento.
Marina Silva tem a seu lado as pesquisas eleitorais. Sempre que o nome dela foi colocado na disputa, Marina teve um desempenho melhor do que Campos. Mais do que isso: ela era o único nome capaz de enfrentar a presidente da República.
Se Marina se candidatar, certamente tirará votos tanto de Dilma quanto do candidato do PSDB, Aécio Neves. Em tese, pois o que podemos esperar do próprio PSB com uma “estrangeira” como cabeça de chapa? Marina Silva acompanhava Campos na tentativa de atrair simpatia de fatias da sociedade, assim como torná-lo mais conhecido nas regiões Sul e Sudeste.
Caso se torne candidata, Marina ganhará uma intensidade de poder que o PSB não deseja conceder. Ela passará a dar as cartas da campanha, elevando consigo as frentes da Rede que seguiam adormecidas ou silenciadas. O programa de governo mudará, assim como o tom dos discursos. Os demais partidos da aliança seguirão com ela? E o tempo no horário eleitoral?
Se o PSB quiser manter o caminho de crescimento nacional, talvez tenha que engolir Marina e o lastro de 20 milhões de votos da eleição anterior. Haverá o risco de fortalecimento da instituição partidária, enquanto nomes importantes da sigla encolhem.
A morte de Eduardo Campos cria uma situação inusitada no cenário. Na década de 50, o então candidato Salgado Filho, que havia sido o principal nome da Aeronáutica, morreu num acidente aéreo. O aeroporto de Porto Alegre leva o nome dele. Obviamente, o contexto político era extremamente diferente.
Depois dos três dias de luto, a campanha recomeça, pelo menos às claras. Nesta encruzilhada, todos esperam pelo movimento do PSB e, depois, por Marina Silva, principalmente os adversários.
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