A decisão do PSDB em escolher o deputado federal Marcio França como candidato a vice-governador do Estado, ao lado de Geraldo Alckmin, não é para causar espanto. Pelo contrário. França cantava em verso e prosa há seis meses, o que representou, para adversários, mais um blefe do que uma costura política. O tempo confirmou a segunda hipótese.
Marcio França, ao lado do governador Geraldo Alckmin |
Depois de um ano e meio, Marcio França prova que aprendeu com a maior derrota política da carreira. O ex-prefeito de São Vicente protagonizou a surpresa da última eleição na Baixada Santista. Ele aprendeu como a soberba afoga um político em águas rasas. Assistiu, nos últimos minutos, a virada de Luiz Cláudio Bili – um ex-aliado – sobre o filho Caio França, na Prefeitura local. E a derrota veio justamente da Área Continental, endereço que a turma no poder considerava um curral sob o cabresto.
Marcio França é um político à moda antiga, excelente aluno dos velhos caciques, até que se tornou um deles. Conhece como poucos a fórmula para alianças, a dança de distribuição de cargos, as palavras e os assuntos que o eleitor costuma ouvir com atenção. Domina também a dinâmica da mesa de cartas, com blefes e exageros na propaganda.
Entre 2012 e 2013, França ficou sete meses fora dos holofotes – quase sem falar com a imprensa. O cenário atual indica que, após digerir o nocaute, ele trabalhou atrás das cortinas, com paciência, conforme reza a cartilha da política tradicional. Fingiu-se de morto enquanto lia com clareza o cenário no horizonte.
Ele estreitou as relações com Eduardo Campos, sem se descuidar do namoro com Geraldo Alckmin. Neste sentido, pôde valorizar – ainda que em demasia – seu papel no casamento entre Campos e Marina Silva. Vendeu um peixe maior dentro de casa e contou com o óbvio: poucos vão até o rio para conferir a história do pescador. Na política e na guerra, propaganda é a chave da sobrevivência.
Desde que Marcio França começou a se destacar na política regional, logo no início da gestão como prefeito, fala-se que o sonho dele é ser governador do Estado. Em 2012, os mais apressados diziam que França se escondeu numa secretaria estadual irrelevante, a de Turismo, argumento reforçado com a derrota em São Vicente. O sonho dele estaria sepultado, em definitivo.
A política ensina que sempre há uma segunda oportunidade, desde que o sujeito compreenda que cargo e poder não são sinônimos. Relacionamentos são bem mais importantes do que plaquinhas na mesa, assessores e carros oficiais.
Para Marcio França, a vida na secretaria serviu para garanti-lo no círculo político de Alckmin, personalidade mais discreta do que ele, mas com doutorado no teatro das sombras, onde o palco somente sela os pactos das coxias.
Ao se candidatar à vice-governador, Marcio França adota relativo risco. Uma derrota – em princípio, improvável – o deixaria sem mandato, o que poderia atrasá-lo na caminhada. A vitória daria a ele tempo (e poder) para se preparar para a eleição seguinte, quando poderia se ver perto do sonho de infância política.
Por outro lado, a proximidade com Eduardo Campos é a segunda canoa onde colocou os pés, o plano para uma surpresa em São Paulo. Perder em âmbito federal é previsível, mas o número de votos é a garantia para reatar o namoro em Brasília, o que arrastaria França de volta para os braços do poder. Um peixe pequeno – é verdade -, mas no aquário com melhor alimentação.
Ver o filho perder a eleição em São Vicente abriu, de fato, os olhos do pai. França compreendeu a real dimensão da cidade e seu provincianismo político. Até o momento, na campanha eleitoral, ele deu o passo para subir a escada, com a vantagem maquiavélica de não jogar as fichas numa só roleta e sem abandonar o quintal de casa.
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