A política-eleitoral adora a festa do futebol. Gols contra, faltas mais duras, mordidas financeiras e mudanças de esquema tático acontecem com a frequência desejada, sem que os torcedores percebam a virada de campo, sem que os juízes apliquem suspensões.
Em tempos de Copa do Mundo, a política-eleitoral assume escandalosamente o futebol de resultados. É hora de definir os elencos que disputarão o campeonato em outubro. Contratações e convocações, cortes por contusão ou naturalizações de última hora movimentam o mercado de seleções partidárias.
Como as partidas ainda não começaram de fato, os treinos abertos servem de aperitivo para a imprensa, políticos locais – que sonham em atuar em clubes de maior visibilidade – e torcedores-eleitores de facções organizadas. Nesta semana, Santos testemunhou o treino aberto de um dos favoritos ao título. A presidente Dilma Rousseff fez sua estreia na cidade e provocou reações sintomáticas dentro de um esporte cada vez mais carnavalesco. Muito barulho, pouco conhecimento, parafraseando Tostão.
Ao contrário deste texto, transformar a política numa partida de futebol é pouco saudável. Culpar, por exemplo, a presidente pelo trânsito em Santos é tão infantil quanto responsabilizar a tia-avó do interior pela cerveja quente no churrasco. É previsível, evidentemente, que esta reação aconteça, diante da metamorfose da política eleitoral em um Flamengo e Fluminense. Se não é culpa do PT, deve ser coisa do PSDB. E vice-versa, como diria o velho atacante filósofo.
Dilma veio para uma solenidade de anúncio de obras, assim como o governador Geraldo Alckmin faz todos os meses. Se as obras vão acontecer, é outro episódio. Quem se lembra da visita do governador, no ano passado, com seis projetos anunciados que não existiam?
O caos no trânsito reforça o delírio que é chamar a Baixada Santista de região metropolitana. Os congestionamentos indicam como Santos e seus vizinhos são mal preparados para qualquer evento que saia do roteiro cotidiano que, aliás, é marcado pela degradação contínua da mobilidade urbana, para usar uma expressão surrada na boca da classe política.
Acusar a visita da presidente de eleitoreira é como dar ouvidos ao comentarista que repete as palavras do narrador após o gol. Nada acrescenta, assassina o contexto, distrai do real objetivo. É óbvio que tem a capitalização eleitoral em qualquer passeio. Ou os eleitores não capazes de discernir a velha tática?
Analisar o jogo significa conhecer a história dele, estudar cada um dos times envolvidos, acompanhar a fundo – bem antes da competição – a trajetória de cada atleta-candidato. Ler um time e seu principal jogador por apenas uma partida significa apostar todas as fichas na Costa Rica como campeã do mundo.
Copa do Mundo e eleições são quase gêmeas. De perto, é possível notar uma pequena diferença entre elas. Se na Copa do Mundo são permitidas surpresas na primeira fase, as eleições costumam ser previsíveis nesta etapa. A irmã eleitoral raramente apronta e, quando o faz, prepara o susto para a decisão. O problema é que, neste tipo de jogo, times milionários geralmente atropelam os nanicos e ganham de goleada.
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