sexta-feira, 27 de junho de 2014

A bomba-relógio


Cubatão é uma granada. A cidade tem potencial explosivo, seja para se desenvolver economicamente, seja para estilhaçar a política local. Todos sabem onde fica o pino de segurança, capaz de evitar mudanças ou tragédias. O problema é que ninguém se interessa, de fato, em guardar o armamento em segurança.

O atual prefeito, Wagner Moura, testemunha um período de cessar-fogo e talvez consiga fazer a transição sem sobressaltos. Por enquanto, a dança política segue o caminho da obviedade. Moura adapta o governo à imagem e semelhança, com trocas de secretários e outros cargos de confiança. Marcia Rosa luta para retomar o poder, sem entrar para a História do município pela porta dos fundos.

O Poder Legislativo costura em silêncio, com um olho no Paço Municipal e outro, no Tribunal Superior Eleitoral. A Câmara Municipal é parecida com as demais casas da Baixada Santista. Salvo exceções que não fazem verão, os vereadores se agarram ao poder e aos seus privilégios, abandonam o comandante do barco ao primeiro sinal de naufrágio e não se incomodam em saltar em outra embarcação, mesmo que o estilo de navegar seja distinto.

Cubatão é politicamente predestinada. Nenhuma gestão conhece a paz plena. A diferença, aparentemente, é que desta vez os rumos da montanha russa foram resolvidos no Poder Judiciário. Mas Wagner Moura precisa se proteger de estilhaços. Ele ainda é visto como transitório, mas virará alvo se entrar na disputa eleitoral.

Entre franco-atiradores, turistas e velhos coronéis, meia dúzia de pessoas levantaram o braço para se tornar o próximo prefeito. Esta turma heterogênea só se une para torcer pelo enterro político de Marcia Rosa. Entre blefes e acertos, a campanha política fora de hora é como uma Copa do Mundo na cidade.

A calmaria política, contudo, é ilusória. A guerra pelo poder, mesmo que nos bastidores, nunca deixou de existir. Na verdade, as decisões judiciais colocaram a política local em falso ponto morto. Ninguém se arrisca. É hora de se ter paciência, algo incomum na biografia política da cidade.

Se pensarmos na história recente, Cubatão não costuma solucionar problemas com conversa. As decisões são na bala. Assessores e vereadores foram mortos. Falava-se até em lista de procura-se, como no Velho Oeste. Anos antes, o então prefeito Clermont Silveira Castor foi vítima de atentado. Crimes políticos sem solução.

O próprio prefeito interino, Wagner Moura, teve as duas filhas sequestradas por 38 dias, em 2013. Os sequestradores acabaram presos.

Numa encruzilhada político-eleitoral como esta, o que se pode esperar no município? A decisão do TRE será mesmo soberana? Podemos apostar no diálogo como meio para desatar os nós da discórdia?

Enquanto isso, Cubatão permanece desigual e com graves problemas sociais. Os rios de dinheiro que correm pelo ICMS, por exemplo, nunca desaguaram em desenvolvimento ou redução das diferenças no município. A economia da cidade é tão cinzenta quanto os muros que nasceram nas vilas operárias.

A área da saúde enfrentou, recentemente, denúncias de ambulâncias que viraram sucatas. O déficit habitacional parece insolúvel, quando não acontece gritaria pela revenda ilegal de apartamentos em conjuntos entregues pelo CDHU.

Cubatão, como qualquer peça interessante de não ficção, é um roteiro vivo. É uma história com múltiplos elementos cinematográficos, que envolvem traições, reviravoltas, paixões instantâneas, violência e mortes. Mas é uma combinação explosiva em que o público – parte omisso, parte conivente – é mero espectador da narrativa.

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