sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Os figurantes de luxo





A Câmara Municipal de Santos terminou o ano de 2013 sob tiroteio. Os vereadores foram criticados por assinar embaixo o aumento do IPTU e apontados pelos servidores como co-responsáveis pela aprovação do projeto de lei que autoriza a criação de Organizações Sociais.

O Movimento Voto Consciente, que acompanha com seriedade o trabalho legislativo, divulgou o balanço das atividades na Câmara. E confirmou o que se esperava: o comportamento dos vereadores no final do ano passado não foi caso isolado. O Poder Legislativo pouco se envolve com os problemas reais da cidade e, quando o faz, é para se ajoelhar diante da Prefeitura.

Das 9.926 matérias, 95% (8.842) eram requerimentos. Os despachos burocráticos transitam entre informações ou indicações à administração municipal. Além disso, a Câmara recebeu 318 projetos, sendo 277 propostos pelos parlamentares e 41 pela Prefeitura.

Aqui começam pesos e medidas diferentes. Todos os projetos da Prefeitura foram aprovados pelos vereadores. Como em casa de ferreiro o espeto é de outra natureza, os parlamentares se preocupam em mostrar serviço, não em concluí-lo. Dos 277 projetos propostos, somente 28 (ou 10%) se transformaram em leis.

O Poder Legislativo se caracteriza, neste caso, por dois comportamentos. O primeiro é a crença de que trabalhar significa a apresentação de leis, sem a mínima preocupação com fiscalização. Um exemplo, já descrito nesta coluna, é a lei que proíbe o uso de celular e outros equipamentos eletrônicos em sala de aula, situação que necessita apenas de bom senso, e não de canetada política.

Outro comportamento clássico é a criação de datas comemorativas, como o Dia do Trólebus. Aliás, a quem devo parabenizar neste dia? O motorista da linha 20? Dos 28 projetos aprovados pela Câmara, 12 criavam datas comemorativas. Outros quatro estabeleciam semanas comemorativas ou campanhas de educação e prevenção. Seis projetos transformavam entidades em utilidade pública. Sobraram, nesta matemática provinciana, seis projetos que viraram leis.

O jeito sucupira também se manifesta na distribuição de títulos e outros mimos, que visam agradar amigos, simpatizantes, colaboradores e outras espécies do meio político. O título de Cidadão Santista foi banalizado, o que colocou gente realmente comprometida com a cidade na vala comum. Desconfio que, em breve, o número de cidadãos santistas seja maior do que o de habitantes.

Os vereadores fazem beicinho quando acusados de servirem como apêndice do Poder Executivo. Não é exclusividade deste governo ou de Santos. A servidão nunca escolheu partido, ideologia ou corrente política. Na prática, a relação ignora os princípios básicos do próprio Poder Legislativo, de elaboração de leis e fiscalização dos atos do Executivo. Prevalecem as negociações e acordos que envolvem, por vezes, ocupar cargos de primeiro escalão e cobrar dos governos a contrapartida das coligações eleitorais.

A Assembleia Legislativa de São Paulo, por exemplo, é alvo de piada em rodas políticas. Para que serve? Por que existe? No Estado, custa R$ 1 bilhão ao ano. O Governo do Estado não se preocupa com ela. Pelo contrário, os deputados estaduais enterraram todas as tentativas de investigar problemas e denúncias contra o Governo nos últimos 20 anos.

Na Baixada Santista, mais de 20 vereadores se lançaram como pré-candidatos a deputados. Acrescente-se aí trampolim ou vitrine como sinônimos de vida parlamentar.

Em nome da nociva governabilidade, o Poder Executivo funciona como o Bem-Amado. De Brasília a Santos, passando pela capital do Estado, parlamentares viraram clones de Dirceu Borboleta.

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