sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Em Santos, comer é luxo




Santos se tornou uma das cidades mais caras do país quando o assunto é comida. E o assalto à garfo e faca se tornou mais evidente durante o verão. Sedentos por faturar em cima dos turistas, o comércio resolveu multiplicar os índices inflacionários locais.

Uma água de coco na orla da praia saltou de R$ 3 para R$ 5. Um suco nos carrinhos na areia custava, em média, R$ 6 na semana passada. Hoje, sai por R$ 8. Com tanta ganância, os ambulantes poderiam informar que o empréstimo das cadeiras e dos guarda-sóis está embutido no preço.

Nos quiosques, os preços indicam aos turistas e moradores que eles se encontram Saint-Tropez ou nas Ilhas Canárias. No canal 6, uma porção de frango à passarinho custa R$ 50. A tradicional isca de peixe alcança R$ 79, o dobro do que é cobrado em botecos. A porção de porquinho não sai por menos de R$ 74. Deve ser a folhinha de alface que decora o prato.

A porção de calabresa, mais popular, custa R$ 44, um terço mais caro do que em bares e cinco vezes o preço de custo. Entre as bebidas, a garrafa de cerveja chegou a ser vendida em restaurantes por R$ 30.

É óbvio que os comerciantes sentem a necessidade de compensar a baixa temporada, mas se esquecem de que os preços abusivos assustam também os moradores. Muitos já se organizam, por exemplo, nas redes sociais e propõem boicote ao comércio local por meio de reuniões em casa e compras de produtos em supermercados.

O comportamento de ambulantes e comerciantes reforça dois pontos. O primeiro é a mentalidade de veraneio, e não de cidade turística. A postura não é prerrogativa do comércio santista. Na década passada, por exemplo, a Prefeitura de Praia Grande precisou intervir para que os quiosques reduzissem preços na temporada. O símbolo do abuso, na época, era a casquinha de siri.

A cobrança abusiva é um grão de areia na fragilidade das políticas públicas de turismo. Políticas regionais, muito mais profundas do que uma linha de ônibus – quase sempre com baixa ocupação – que percorra os pontos turísticos da suposta região metropolitana. As cidades ainda se comportam como estâncias de veraneio, incapazes de segurar o visitante durante o ano todo, seja por conexões com empresas de pacotes, seja com diálogos com instituições políticas superiores.

O segundo ponto é que Santos ficou cara para comer e beber, com sol ou chuva, com ou sem temporada. O Boqnews divulgou, em março de 2013, pesquisa feita pelo Instituto Análise, por encomenda da Associação das Empresas de Refeição e Alimentação Convênio para o Trabalhador.

Na pesquisa, Santos é a mais cara do Estado de São Paulo na categoria self-service. Aqui, a refeição custa, em média, R$ 21,71. No Brasil, Santos só perde para o Rio de Janeiro, onde a refeição sai por R$ 22,65.

Santos fica em segundo lugar na categoria à la carte, atrás somente da Grande São Paulo. Mas a diferença não paga o café: R$ 1,43. A média de preço das refeições, independentemente de categorias, é superior a do Estado de São Paulo. Em Santos, R$ 25,67. Além do preço, ainda prevalecem as queixas quanto ao atendimento. São comuns as reclamações a respeito do serviço prestado. Como me disse uma consumidora: “eles acham que estão me fazendo um favor.”

É essencial estreitar o diálogo entre Prefeitura, Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes, ambulantes e permissionários de quiosques. Afinal, tanto ambulantes quanto quiosqueiros recebem autorizações e concessões públicas para trabalhar. Uma decisão precisa ser tomada antes do Carnaval, daqui um mês, e antes da Copa do Mundo, em junho.

Deixamos de ser a região dos farofeiros, mas as marcas do veraneio infelizmente permanecem. A neurose de faturar em curto prazo, na prática, só afugenta quem veio para gastar. A ganância colabora, assim, para a multiplicação de isopores e coolers como parceiros de cadeiras e guarda-sóis.

8 comentários:

  1. Os preços da orla e na zona sul de Santos sempre afugentaram os verdadeiros santistas e é o ano inteiro não apenas com a temporada apenas deu uma ampliada no que já era abusivo, e desculpa a redundância apenas ficou o abusivo ou por mais abusivo e creio outros pessoas que gostavam de se alimentar na mesma fizeram o mesmo que eu fiz,ou seja, migraram para ZN e SV onde tem boa e barata,mas sem luxo e clamor inclusive tem uns barzinhos tipo pé sujo bons e baratos, é o mesmo problema da habitação que fez que as pessoas debandagem de Santos por não terem condições de morar em Santos pelo alto custo de alugueis com isso levando as pessoas que moraram a vida inteira em Santos a irem para SV,PG,Mongaguá,Itanhaém, Peruíbe.

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  2. Caro "eterno aprendiz", você está coberto de razão. No final de semana passado, conversava com colegas de trabalho sobre o problema. Come-se em SV pela metade do preço, dependendo do lugar. Sobre os aluguéis, há impacto da especulação imobiliária na Área Continental de SV e em PG. O fato é que, de modo geral, ficou muito caro residir no litoral. Grande abraço!!

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  3. Como disse Boni, que escreveu um livro sobre restaurantes com Ricardo Amaral, os brasileiros se preocupam demais com decoração e serviço, e menos com o cardápio e os alimentos. Penso que a regra vale também para o litoral de São Paulo.

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  4. “Parecem-me importantes, MARCUS, trabalhos como este seu, a denunciarem situações aparentemente inexplicáveis. É possível que o comerciante, nestes mesmo tempos de veraneio, ou férias de gente do Interior ou da Capital, já recebam mercadoria, ou materiais de fabricação caseira dela, com os preços elevados. Neste caso não se sabe por onde começar a contar a história dos abusos — o começo do fio da meada. É já sabido o quanto vem acontecendo no Rio por causa de Copa deste ano.
    De todo modo, as denúncias têm função relevante. Os abusadores, sendo acusados na imprensa, terão pelo menos algum receio. Isso é algo construtivo para o consumidor.
    Dou-lhe os meus parabéns.
    Abraço.
    Mozar Costa de Oliveira ”

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  5. "Afinal, tanto ambulantes quanto quiosqueiros recebem autorizações e concessões públicas para trabalhar".
    Frase mais importante dessa crônica, na minha opinião. Pode não ser um furo, mas é uma grande lembrança para os leitores e sério argumento para as políticas públicas, as feitas com boas intenções.

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  6. Sua crônica é e será sempre oportuna, pois o problema vem se agravando. Sugiro como outro tema nesse contexto, se é que já não abordou, a questão dos ditos guardadores de carro. Tenho visto na orla da praia do José Menino, em Santos, e do Itararé, em São Vicente, extorsões e até ameaças a quem não queira pagar R$ 20,00 ou mais, sem qualquer autoridade para coibir.

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  7. Caro professor, se analisarmos os componentes da Câmara de Santos veremos que as suas campanhas (da grande maioria, pelo menos), foram financiadas pelos Sindicatos e Associações de comércio, restaurantes e hotelaria da Baixada Santista...o eterno aluno.

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  8. Com essa atitude de querer ganhar muito,estão criando uma nova mania no santista,o de levar tudo de casa.Com isso,quem muito quer nada ganha.

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