Com uma semana de governo, o prefeito Paulo Alexandre Barbosa teve que vir a público explicar as contratações para o segundo e terceiro escalões da administração municipal. Parte das contratações seria de profissionais sem a formação adequada para os cargos.
Qual é a novidade? Por que a expressão de espanto? Política é marcada pela previsibilidade. Ou acreditamos que a formação da base de apoio do secretariado seria apenas por méritos?
Se quisermos conhecer um governo, temos que olhar para o segundo e terceiro escalões. É lá que as decisões são colocadas em prática. E é lá que a máquina se mexe nas suas vísceras. Secretários, por vezes, funcionam somente como pára-raios político. E protegem o que se desenha nas entranhas.
Há, de fato, um ponto novo nesta história. A criação do cargo de secretário adjunto. Um ato de coerência, já que Paulo Alexandre entrou no governo do Estado – e dali começou a pavimentar a estrada até a Prefeitura – como secretário adjunto de Educação, no gestão Gabriel Chalita.
A palavra “secretário”, além da remuneração, dá status diferente ao assessor. Ele assume na ausência do titular, tem algum poder de decisão e barganha na pasta, pode ser protegido em caso de escorregão político e colher dividendos quando representa o chefe em atos públicos, mesmo que seja em eventos de menor importância, mas atenda a currais eleitorais.
A nomeação de segundo e terceiro escalões pode ser vista como natural e juridicamente aceita, ainda que seja imoral. Tais cargos são a moeda de troca da corrida eleitoral. São a consequência direta das alianças políticas, dos apoios, das trocas de favores até a vitória nas urnas.
O segundo e terceiro escalões atendem aqueles que se mataram durante a campanha (com bons salários, óbvio) e esperam a retribuição pelos serviços prestados quando o desejo vira poder. A lei da compensação costuma dispensar competência técnica, e sim funcionar por proximidade técnica. Em alguns casos, quando menos o sujeito atrapalhar, melhor!
Neste sentido, não é de se estranhar advogados, jornalistas e outros profissionais em pastas completamente distintas de sua formação acadêmica e experiência profissional. É hora de acomodar todo mundo e selar pacto e língua dos aliados. Com todos os interesses atendidos, a Prefeitura começa a – efetivamente – sair do lugar.
Paulo Alexandre paga o preço pela vitória. Terá que encaixar gente – e alguns sanguessugas – de uma dezena de partidos, mais a turma que sobrou da gestão anterior e tinha afinidade política. Isso inclui também os acordos com o novo Legislativo, onde mantém a maioria como apoio.
A dinâmica da política partidária brasileira funciona desta maneira. Por que seria diferente com os tucanos? Embora a expressão tenha origem nas práticas petistas, todas as legendas têm sua criação de gafanhotos no fundo do quintal. O prefeito, claro, faz o papel dele, em falar sobre competência, idoneidade e ligações com a cidade. São argumentos válidos, porém esvaziados pela retórica genérica.
As nomeações vão prosseguir pelos próximos dias. O rebuliço vai diminuir e será encoberto por outros problemas ou factoides políticos. Mas o fato é que as letrinhas miúdas do Diário Oficial de Santos nunca foram tão lidas, seja por frustração de ter escolhido o homem errado, seja por um sorriso de felicidade.
Mais uma ação estratégica para manter o marasmo e o consenso na cena política santista.
ResponderExcluirÉ como diz o ditado: "Se a farinha é pouca, o meu pirão vem primeiro".
Diga-se de passagem, contratar jornalistas (!) foi mesmo uma jogada de muita astúcia. Assim esvazia-se a crítica afiada que deveria da imprensa, como parte da opinião pública.
Ainda bem que nossa cidade conta com jornalistas lúcidos e apartidários como você. É preciso fiscalizar o Executivo e o Legislativo e cobrar as promessas mirabolantes feitas pelo novo alcaide.
ResponderExcluirOs santistas deram um cheque em branco para o 'prefeito-sacristão' e a fatura pode sair cara demais. Santos precisa de ousadia e determinação!
O 'bom-mocismo de boutique' do novo chefe - tão natural quanto uma fanta uva - está muito aquém das necessidades reais da nossa cidade.
Boa sorte, conterrâneos! Vocês vão mesmo precisar!