quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O tempo e o suor

Apontar as causas para a vitória de Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) em primeiro turno – e motivos para o fracasso dos demais – é tarefa que requer tempo para os analistas políticos. Vale, óbvio, para qualquer fenômeno social. É preciso prazo para conectar e pesar na balança fatores que, juntos, não garantem um resultado matemático. Sempre haverá um campo de especulação e subjetividade no olhar sobre o processo eleitoral.

Resolvi, para manter viva a coerência, pensar sobre a escolha que a maioria dos eleitores fez. Por que escolheram o tucano? Por que rejeitaram os concorrentes, alguns com mais experiência para a função? Entenda, leitor, como estradas para a reflexão, somente impressões.

A campanha de Paulo Alexandre foi eficiente. Construiu uma imagem que convenceu uma parcela do eleitorado. Um produto bem embalado, que atende às necessidades do consumidor. Campanhas, a bem da verdade (opa, uma palavra incompatível para o momento), seguem a obsessão de diagnosticar e se comunicar cirurgicamente com os desejos de alguém que mal compreende – até porque desacredita – as entrelinhas da política.

A campanha do candidato tucano preencheu os espaços ignorados ou negligenciados pelos adversários. Expôs – o que é diferente de colocar em debate – ideias dentro de um cardápio de anseios coletivos, mas coletivos apenas por coincidências de necessidades individuais.

Paulo Alexandre se encaixa no modelo que representaria o novo, embora não o veja como tal. Sem personalizar, ele simboliza um rumo de gestão que se conhece do governo do Estado e da própria Prefeitura.

A imagem também funciona pelo oposto. Os ex-prefeitos Beto Mansur e Telma de Souza carregaram nas costas o desgaste de várias eleições, de discursos requentados, do lado negativo de suas administrações, que o tempo fora do Paço Municipal inevitavelmente desenterra.

O candidato do tucano soube capitalizar a popularidade do atual prefeito João Paulo Tavares Papa. Antes de se oficializar a corrida, Paulo Alexandre não fazia questão de se divorciar do governo. Pelo contrário, Alckmin e Papa davam as mãos em solenidades e, dentro da dança política, com o então secretário estadual Paulo Alexandre na mesma foto.

Papa também demorou para definir seu candidato. E Sérgio Aquino pagou o preço da indecisão. As primeiras pesquisas apontavam, por exemplo, que poucos sabiam quem era o apadrinhado do prefeito. Depois, nas rodas de conversa, a desculpa: “quando chegar o horário eleitoral, as pessoas saberão quem é o candidato dele.”

De fato, Aquino chegou a 12% dos votos válidos, mas a poeira no rosto marca o quanto estava atrás, sem fôlego para se aproximar de Paulo Alexandre. O perfil do técnico foi, além de tudo, insuficiente.

O candidato do PSDB contou ainda com as circunstâncias. O eleitor médio está exausto. Não suporta a campanha eleitoral, ignora os debates, ri nervosamente do horário eleitoral. É comum a opinião de que a eleição, resolvida em primeiro turno, significa um fardo cumprido.

Na prática, a cidade optou pela continuidade, pela figura de um gerente, mesmo que a retórica política seja somente um tempero dentro da receita que borbulha no caldeirão de partidos.

O tempo resolve? Quatro anos para sabermos qual a distância entre a imagem e o real. Por hora, impossível confiar em um gerente que não transpira embaixo de sol na feira livre.

Um comentário:

  1. ô Marcão, ele só não transpira embaixo do sol na feira livre porque felizmente não ostenta a camada avantajada de gordura que nós dois carregamos. Um abraço, Chico.

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