terça-feira, 9 de outubro de 2012

Bili e as palavras flexíveis


Com a eleição de Luis Claudio Bili para prefeito, São Vicente se tornou o centro das atenções na política da Baixada Santista. Evito a tentação de usar a palavra surpresa para definir a vitória de alguém que está na política local desde os 21 anos. A palavra daria razão aos analistas políticos e às pesquisas eleitorais, que escorregaram feio nas previsões para a vila mais antiga do país.

Para quem observa à meia distância, o mais interessante das viradas eleitorais é que elas geram um caldeirão de impressões. O eleitor vicentino realmente escolheu o novo? A cidade rejeitou um modelo de dinastia que controlava a política há 16 anos? De que modo a nova (velha) composição da Câmara Municipal vai interferir na vida do prefeito?

Luis Claudio Bili, de saída, não representa novidade alguma no município. O novo prefeito, de 43 anos, está na política desde o século passado, dentro e fora do governo. Bili é dissidente de tempos recentes. Como vereador de cinco mandatos, integrou a base de apoio dos governos de Marcio França e Tércio Garcia. O prefeito eleito foi, inclusive, secretário por três vezes, em três pastas diferentes.

Se Bili já foi da base de apoio, por que o eleitor vicentino não confirmou a continuidade no herdeiro da dinastia França? A resposta não é conclusiva e talvez jamais a seja. Mas o recado apenas confirma uma lei da História: nenhum Império é eterno. E costura outra premissa: a arrogância, em campanhas eleitorais, mata o político pela boca da urna.

Caio França perdeu no voto, mas a maior derrota é de seu pai, o deputado federal e ex-prefeito Marcio França. Ele, aliás, compõe o pacote simbólico de fracassos nesta eleição. Um olhar que nos leva a crer – com a exceção de Alberto Mourão, em Praia Grande – que os velhos coronéis não vencem mais de goleada.

A escolha de Caio França foi um ato presunçoso. Escolher um rapaz de 20 e poucos anos, sem experiência administrativa, enfatizou o que já se sabia há tempos. Marcio França continuaria governando São Vicente à distância. Esta posição, unânime em outros momentos políticos, fortaleceu uma corrente separatista, sedenta por aumentar a parte no bolo de poder em uma cidade que abriu mão da oposição.

A campanha de Caio França montou um tabuleiro com final que julgava previsível. Apenas se esqueceu de avisar os peões. Os eleitores se moveram, em parte, para um movimento anti-França (pai ou filho, pouco importa!), no qual Luis Claudio Bili serviu como válvula de escape. A Área Continental se transformou no centro da mudança, como reação a um modelo que não a colocava entre as principais prioridades.

O próprio prefeito eleito reconheceu, em entrevista ao repórter Victor Miranda, de A Tribuna, que parte dos votos vieram por insatisfação do eleitorado, e não por convicção. O cenário se tornou bipolarizado, de teste para a popularidade de Marcio França e do grupo que gerencia São Vicente há 16 anos. Os nanicos, com outros dois candidatos, ficaram minúsculos neste caso, dilacerados pela implosão dentro de seus próprios partidos.

O eleitor pode ser paradoxal quando encara a campanha municipal – efetivamente - como duas votações. A escolha de vereadores envolve critérios mais individualizados, menos abstratos e amplos sobre a cidade. Em São Vicente, a Câmara Municipal teve pouca renovação.

A única questão é que os papéis dos vereadores se inverteram. Antes, não havia opositores ao Governo no Poder Legislativo. A partir de 2013, a maioria dos vereadores será de oposição. Apesar da aparente dificuldade para Bili, maioria é um termo relativo, pois já teve gente que mudou de lado na festa da vitória.

Como Luis Claudio Bili na Prefeitura, São Vicente provou que tem um modo particular de fazer política, capaz de derrubar analistas e pesquisas. Lá, situação e oposição são palavras bastante flexíveis.
 

Um comentário:

  1. O modelo do PSB fez com que oposição fosse uma palavra lacônica. Siglas se tornaram meramente uma identificação de quem era da corte ou não. Bili pediu pra sair.Foi o secretário que mais divergiu do prefeito, até que se cansou. Para mudar as coisas, é preciso estar do lado de dentro, tentar até o fim. Esse prazo expirou em 2011.
    A vitória era clara para nós. Desde sempre, pois o medo fazia os vicentinos divulgarem uma coisa, mas a dignidade os fazia caminhar para outra.
    Parabéns, amigo.
    O tabuleiro foi reconfigurado. E vamos jogar com sabedoria.

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