A adolescência, que mescla origens biológicas e culturais, é uma fase difícil. O corpo é instável; o comportamento, inseguro; a necessidade de reconhecimento de grupo, vital. Trata-se de um período de alterações, de contestações de quem tenta se libertar de amarras e buscar a própria trajetória, diferenciando-se dos demais.
A busca pelo reconhecimento envolve também a aparência, numa sociedade de consumo que sonha com a padronização. Neste sentido, o uniforme escolar é um dos grilhões mais cruéis para o cotidiano de um adolescente. Por mais que se vistam de maneira parecida, eles jamais aceitam que essa imposição venha de terceiros, ainda mais da escola.
É preciso quebrar as regras e desafiar o senso de autoridade, desde modificações no corpo como piercings até outros acessórios da moda como bonés, casacos, calças rasgadas e mudanças no próprio uniforme.
As escolas com alunos mais ricos sempre trabalham ao gosto de freguês. Os indivíduos matriculados seriam clientes e teriam sempre razão. Faz parte do processo ilusório de fornecer uma pseudo-interatividade ao comprador.
O uniforme existe desde a Idade Antiga. De origem militar, servia para reforçar a identidade dos soldados, estabelecer a hierarquia entre os homens e seus posicionamentos no campo de batalha. Controle!
Atualmente, o uniforme atende aos mesmos propósitos, porém em um número maior de áreas. É o atendente sem nome de um restaurante fast-food, identificado apenas pelas cores. É o funcionário terceirizado de uma universidade, que se diferencia de professores e demais “colaboradores”.
A escola adotou – mesmo que de maneira simbólica - o uniforme no século XX pelas mesmas razões militares da Idade Antiga. Controlar alunos com mãos-de-ferro é o sonho de pseudo-educadores.
As instituições de ensino, muitas delas alicerçadas nas relações de consumo, perceberam que as algemas podem ser ornamentadas com flores, sem que o preso se dê conta do cárcere. É a máxima weberiana: o mecanismo de dominação ocorre quando o dominado não nota o processo de controle e auxilia na própria relação de submissão.
As escolas, localizadas em grandes capitais, notaram que o uniforme influencia no cotidiano de seus alunos adolescentes. Como a moda é preocupação recorrente de seu público, bastou terceirizar o serviço e lançar uma espécie de “coleção outono-inverno escolar”. Ou seja: o uniforme ganhou uma linha de camisetas e acessórios. O público expeliu mais uma vez a faceta consumista, com a coleção de uniformes, de várias cores.
Nesta relação de consumo, a escola lucrou novamente. Os jovens foram iludidos pela diferenciação, mas caíram de quatro na arapuca dos padrões de comportamento. As cores e os modelos das camisas são para todos, sem margem para criações autorais.
Assim, a sociedade de consumo – impregnada em um tipo de instituição que deveria primar pela cidadania – persiste em perseguir a própria utopia: o consumidor único, com pensamento único, servil aos produtos idênticos e sem as resistências tribais. A felicidade exterior e a falsa liberdade numa camiseta.
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