segunda-feira, 21 de março de 2016

O Complexo de Clark Kent



Marcus Vinicius Batista

Não é à toa que o Superman sempre se disfarçou de jornalista. Muitos, nesta profissão, se julgam infalíveis, quase deuses. Descobri e confirmei, nos últimos anos, que muitos juízes também padecem do mesmo mal. Por coincidência, ambas as profissões justificam a arrogância de suas decisões com argumentos como imparcialidade.

O juiz Sérgio Moro é o símbolo do momento político atual. Para muitos, ele já veste capa vermelha e cueca por cima da calça. No cenário de política polarizada e de infantilismo democrático, a trama em volta do super-herói da vez permite, no mínimo, uma análise por dois ângulos.

O primeiro deles envolve a própria figura do juiz de Direito. O Poder Judiciário costumava se manter seus representantes nas sombras. As instituições vinham à frente das pessoas. Com a fragilidade e deslizes dos poderes Executivos e Legislativo, o Judiciário - por meio de magistrados de várias instâncias - passou a acreditar que poderia ir além de suas fronteiras e participar como ator principal do processo político. Culpa também da classe política, que governa por meio, inclusive, de aberrações jurídicas.

O problema é que o olhar brasileiro sobre a política é de personificação, e não de compreensão de grupos de interesses ou de projetos de poder. Fala-se em governantes ou parlamentares como se eles estivessem acima das instituições, seja para bajular, seja para espinafrar por erros.

Os juízes passaram a acreditar, da primeira instância ao STF, que poderiam interferir individualmente, sem se ferir, nos processos políticos. O Complexo de Clark Kent é uma enfermidade que tem como um dos sintomas o espetáculo de mídia, que coloca o super-herói na condição de cavaleiro solitário, capaz de salvar o planeta por ser acima de qualquer suspeita.

Ao concordar com esta lógica, o juiz compra as mudanças de humor da opinião pública e se afasta do campo do Direito. A Justiça, na qual o olhar político deveria ter papel menor, se transforma num instrumento de uso quase que exclusivamente eleitoral. Os juízes entraram no palco, quando deveriam estar atrás das cortinas e se esqueceram que esta postura envolve um risco: o de receber tomates e ovos se tomarem decisões impopulares.

O segundo aspecto é quando o juiz com Complexo de Clark Kent adota, no campo da Ética, o pragmatismo de Maquiavel. O pragmatismo reza que uma ação só é ética quando se alcança o resultado desejado, não importando como se chegou nele. Simplificando, os fins justificam os meios.

Esta postura é inerente ao comportamento do político, porém era rechaçada por muitos juízes, que se sustentavam no distanciamento seguro do Poder Judiciário. Não foi o que aconteceu, por exemplo, com o juiz Itagiba Catta Preta, que vetou a posse do ex-presidente Lula como ministro.

O ponto não é a decisão, mas sim quem a tomou. O juiz tinha manifestado publicamente, em redes sociais e com presença em protestos de rua, que era contra o governo atual. Isso se chama, em Ética, de conflito de interesses. O juiz deveria, num campo ideal, se recusar a avaliar a liminar.

Ao se envolverem de maneira tão pessoal em problemas políticos graves, os juízes colocaram em xeque a imagem da Justiça, já desgastada por acusações de lentidão e de proteção a quem possui a conta bancária mais gorda. Infelizmente, vão aprender da pior maneira, a da exposição sem controle.


sexta-feira, 18 de março de 2016

A rainha nua e o primeiro ministro


Marcus Vinicius Batista

À parte a discussão jurídica derivada da guerra de liminares, não dá para aceitar moral e politicamente a decisão da presidente Dilma Rousseff em nomear Lula como Ministro da Casa Civil. Compreender como válida a nomeação implica em tolerar que os fins justificam os meios, prática recorrente e criticada na classe política.

Lula, acima de tudo, passou por cima de seu partido e pensou em salvar a própria biografia. Foi uma atitude de pai, termo usado com frequência pelo próprio ex-presidente enquanto governava o país. Pai tem um significado ambíguo, que transita daquele que protege e acolhe àquele que pune e passa impune por estar acima do bem e do mal.

Na política brasileira, ser pai é um comportamento perverso, repetitivo e aceito por boa parte do eleitorado. De Getúlio a JK. De Maluf a Lula. O pai é visto com cumplicidade, quase um totem a ser preservado pelo seu passado. Isso também reforça a ideia de que Lula estaria acima do PT e deveria se proteger e ser protegido, tanto política como judicialmente. Numa sociedade patriarcal, ironicamente, a culpa pertence à mãe.

O problema é que, ao proteger Lula, o governo sacrifica o PT. Protege uma história, incinera outra. Joga ao fogo o trabalho de milhares de militantes ao longo dos anos. E assume de vez um atestado de culpa derivado da sanha para manter a tal da governabilidade.

Lula agiu com coerência. Agiu como um caudilho latino-americano. Ele manipulou novamente as massas, demonizou seus opositores, se posicionou como um ícone acima das instituições e minimizou a credibilidade construída em setores que veem a política com mais racionalidade.

A cultura política latino-americana adora esses personagens. Valorizamos as personas, desprezamos os grupos como se eles não existissem e se escondessem atrás das personas, num relacionamento de simbiose como projeto de poder. Tenho a impressão, ao conversar com petistas de longa data, que muitos deles cultivam a esperança de ressurreição de um partido dilacerado pela ganância de poder de seus próprios integrantes, que venderam suas almas e terceirizaram a de seus militantes.

Lula, ao ser escolhido como ministro, tornou-se primeiro ministro informal e, ao pensar somente nele, jogou mais querosene no governo de Dilma. Lula, acredito eu, nunca pensou em Dilma. Nunca a deixou caminhar com as próprias pernas. Assim como em outras instâncias do PT, o Lula líder nunca se preocupou em formar novas lideranças, num ato de egoísmo em estado puro.

Na cultura dos caudilhos, os ex nunca são passado. Os ex sempre são atuais em estado de espera. Um general da reserva pronto para o combate e preparado sempre para lustrar seus próprios feitos. O substituto está destinado a ter, atrás de si, a sombra do ídolo de sempre.

A presidente Dilma Rousseff perdeu a oportunidade de demonstrar algum tipo de resistência. Virou coadjuvante na crise política, de modo que o impeachment é pregado mais contra um partido do que contra a ocupante do cargo mais alto.

Dilma é (ou foi) a presidente da continuidade e do continuísmo. Manteve as alianças com ratos que pensam em abandonar o navio que faz água. Reduziu programas sociais, que tinham sido a marca da gestão anterior. Reforçou um projeto de poder cinza, jamais verde. A usina de Belo Monte que o diga.

No campo político, a então ministra que era vista como um trator se apequenou diante do rei e o nomeou primeiro ministro. Apequenou-se também diante do vice-presidente soturno e eventualmente falastrão, premiado com cargos mesmo quando ele ameaçou correr para outros hospedeiros. O PMDB tem seis ministérios no momento.

Mais do que Lula, exposto mas capaz de se defender, quem mais perdeu com a criação do cargo de primeiro ministro foi Dilma. Ela está nua, mas sem notar que perdeu suas roupas, dando ouvidos àqueles que insistem que suas vestimentas são deslumbrantes. Como a fábula que se repete no Palácio do Planalto.

domingo, 13 de março de 2016

Briga de rua

Protesto contra aumento da tarifa de ônibus, em São Paulo

Marcus Vinicius Batista

Entrei na farmácia e encontrei um colega de trabalho. Ele falava alto e se movia como pavão entre os balconistas e o farmacêutico, todos com feições de natureza morta. Vibrava com o som da própria voz, que garantia que tudo mudou naquela manhã.

Quando me viu, atropelou o bom dia e me perguntou de imediato: "Viu o noticiário?" "Vi", entendendo o motivo do carnaval. "Olha, professor, agora tudo vai mudar. Com a prisão do Lula, finalmente o Brasil será outro." O colega pagou e seguiu em fortes bravatas porta afora, desta vez sem plateia.

Penso nessa e noutras conversas dos últimos dias, ao escutar as profecias para o próximo domingo. A promessa de campanha é encher as ruas no dia 13 de março. Tenho medo do que pode acontecer neste dia. Temo que o mundo virtual, dos ativistas protegidos por ar-condicionado, teclado ou monitor, possa ser transportado para um cenário real da pior maneira. Que o discurso Fla-Flu, que a arquibancada de torcida organizada, com suas canções de intolerância, preconceito e maniqueísmo, desfile para as câmeras das emissoras de TV.

O cenário que se desenha é mais uma chance abandonada em qualquer esquina, como bandeiras e adesivos pós-festa. Salvo uma surpresa com cheiro de milagre, minha tendência é acreditar que repetiremos os gritos mimados de uma democracia infantilizada, adepta das soluções de desenhos animados ou telenovelas, que dividem o mundo em dois: os que estão comigo e os vilões, que nasceram contra mim.

Neste mundo preto ou branco, pouco se discute política. Anexar a palavra "pública" à política representa um delírio de grandeza intelectual. É claro que condições democráticas são exceção na história do país. Passamos a maior parte - e desconfio que nos acostumamos e alguns até idolatram - sob tutela das gravatas ou das armas, sob o conforto de quem sempre nos diz o que fazer, como pensar, para onde andar, quem demonizar e eliminar da nossa frente.

A visão política, no geral, reproduz o olhar da classe político-partidária, atrelada a interesses menores e particulares. Aprendemos com os melhores professores como ficarmos cegos para a coletividade, enquanto arregalamos os olhos para os benefícios individuais. Enxergamos com um reducionismo de classe média: desejo de subir, ojeriza de descer.

Neste sentido, falta a capacidade política de compreender os tons de cinza. Tomar ciência dos jogos de interesses. Informar-se sobre o histórico das lideranças e das instituições partidárias. Duvidar do papel de parte da imprensa, que pratica o ditado "casa de ferreiro, espeto de pau", quando arrota conceitos como imparcialidade, neutralidade e objetividade para mascarar seus modelos de negócios. E aprender que política é exercitada por grupos de interesses, e não somente por sujeitos que viram heróis ou vilões como Lula, FHC e o prefeito da sua cidade.

Desconfio que praticamos uma democracia de consumo. Não falo de acessos a todos aos bens materiais; muito pelo contrário. Penso num olhar de cliente, que respira pelo próprio umbigo e finge se interessar por tudo e por todos. Se há condições, compramos ou financiamos. Se há problema, reclamamos no 0800; neste caso, de maneira impessoal como se conversássemos realmente com um gravação.

A política também absorveu a lógica do espetáculo. Prevalecem a imagem, a forma e a retórica fútil de um produto que se vende como barato, eficiente e perfumado. Não checamos as biografias, preferimos reduzi-las às últimas declarações que geram notícias. Escolhemos, com ingenuidade, personagens folclóricas, alinhadas e porta-vozes da nossa virulência, que falam de tudo num tom acima e nada explicam.

Os democratas do maniqueísmo adoram a narrativa novelesca para comprimir um processo político no capítulo do dia. Adicionam uma pitada de individualismo, que se reflete no deixa prá lá de descarte da lei, quando confirmam nossas posições e interesses econômicos. Instalamos um pedestal para promotores e juízes que reagem ao clamor midiático com a fantasia de justiceiros. Vale acusar qualquer político, petralha ou coxinha (perdão pelo estereótipo), desde que renda alguns minutos no noticiário da noite. Construir processo e buscar pela condenação do réu e seus amigos - incluindo os corruptores - é tempo de exceção. A velha máxima se repete: "para os amigos, tudo; para os inimigos, a lei."

Na compra e venda de indignações, a demanda é por rótulos, simplificadores de rasa explicação dos fatos. Ouvi esses dias alguém falando que o Governo é repleto de comunistas. Gostaria de conhecer um deles, dentro de um contexto de modelo neoliberal, de uma gestão que esmagou diversas minorias - índios, por exemplo -, protegeu bancos e rezou a cartilha internacional das grandes economias, com o mantra "crédito e consumo".

A democracia infantil não deseja aprender, somente brincar. O sistema político se esvai numa entidade espiritual, distante, opaca e desconhecida. Não nos interessa saber como funciona o governo, como se vence uma eleição. Basta que minhas contas estejam pagas e que meu consumismo possa se perpetuar nos desejos da moda.

O domingo não será o dia da mudança, infelizmente. Será um dia de risco, que correremos se optarmos pela arena no sentido de espetáculo romano, e não no sentido de reflexão grega. Nesta democracia tardia, ainda adolescente, é fundamental que, antes de crucificar personas eleitas, tenhamos que carregar espelhos para as ruas das grandes cidades. Poderemos nos ver, e não nos atirarmos aos leões para que os sujeitos criadores do show sorriam e se divirtam com o sangue alheio.

Olhar para a própria ignorância - e se reconhecer como tal - pode ser o primeiro passo para assimilar e vivenciar a ideia de que a corrupção pertence a todos nós, não apenas ao PT e ao PSDB. Deixemos de ser o PMDB, sempre presente, mas apontando o dedo como se nunca estivesse ali.

quinta-feira, 10 de março de 2016

Tecnologia, a arma verde

Mário Mantovani, diretor da ONG SOS Mata Atlântica
Marcus Vinicius Batista

* Matéria publicada, originalmente, na revista Guaiaó, edição n.9


O ambientalista Mário Mantovani, de 59 anos, só confirmou sua vocação no ano retrasado. Quando visitava os pais, ele recebeu a notícia pela mãe. Ela contou ao filho que, quando ele tinha 10 anos, os dois tiveram uma conversa. Mário não se lembrava, mas assina embaixo das palavras da mãe. Dona Maria do Carmo teria dito ao menino: “Mário, sua missão na vida é cuidar da natureza”. Hoje, ela – aos 83 anos – acompanha e adora programas sobre ecologia na TV.

Profecias à parte, Mário Mantovani é um dos principais ambientalistas brasileiros, tanto em visibilidade quanto em ações e influência política. Ele é um dos fundadores da ONG SOS Mata Atlântica, entidade criada em 1986 e que possui 300 mil contribuintes anuais.

Mas Mário começou antes, em 1973, na União dos Escoteiros, ainda adolescente. Não havia movimento ambientalista organizado. Os escoteiros haviam sido convidados para divulgar a mensagem da Conferência de Estocolmo, na Suécia, que ocorrera no ano anterior: “pensar global, agir local”.

Depois de dois cursos técnicos, virou bancário. Por ironia, gerente de crédito agrícola. Em meados dos anos 70, Mário foi estudar Engenharia Florestal no Rio de Janeiro, animado por conta de fundos financeiros de reflorestamento. Largou logo início e se mudou para São Paulo, atrás de cursos de ciências sociais. Acabou em Geografia, na PUC-SP. Na política estudantil, Mantovani se envolveu nas lutas pela Estação Ecológica da Jureia. Daí, o ambientalismo profissional. “Tive a sorte de estar no lugar certo na hora errada.”

Hoje, o ambientalismo – para Mantovani – necessita de uma estrutura profissional, que envolva conhecimento jurídico e científico, estratégias de comunicação e tecnologia. A SOS Mata Atlântica compra, por exemplo, imagens de satélite para mapear 17 Estados brasileiros. “Precisamos dos melhores profissionais e da melhor tecnologia, porque seremos contestados. Mas o Meio Ambiente vive seu melhor momento porque eu consigo quantificar e qualificar todas as informações e fazer política com estes dados.”

A Mata Atlântica possui, hoje, 8% da área original. No Estado de São Paulo, chega quase a 20%, mas da área protegida pela legislação. Do território devastado no país, a ONG estima que metade serve para especulação fundiária, não mais para a produção agrícola.

A conversa com a revista Guaiaó aconteceu em três partes, numa tarde com termômetros flertando entre 35 e 38ºC. O primeiro encontro se deu durante almoço num restaurante do Centro de Santos. Depois, o cenário foi a Biblioteca de Artes, da Secretaria Municipal de Cultura. O desfecho, na antessala do gabinete do secretário Fábio Nunes, o Fabião. “Faço política 24 horas diárias. Sempre”, explicou o ambientalista.

Na entrevista a seguir, Mantovani falou sobre a evolução da luta pela preservação ambiental, do fascínio pela tecnologia como arma de envolvimento das pessoas e sobre o que move a agenda do ambientalismo profissional, menos preocupado com protestos, mais consciente de que informação é o futuro verde.

Guaiaó: Você entrou no ambientalismo pela defesa das florestas. Como você enxerga o Código Florestal? Foi uma derrota política?

Mário Mantovani: Foi uma derrota política para o Brasil. Se fosse só para nós, estava resolvido. (risos) Não teria nenhum impacto na nação. O grande drama é o impacto para o Brasil. O fato de se retirar proteção de margens de rios e dar uma anistia foi grave. E o mais grave foi retirar uma conquista da Constituição, quer era a função social da terra. Quando o Brasil colocou na função social da terra os temas ambientais, éramos um país evoluído. O maior problema ambiental brasileiro é fundiário. Em um país onde 80% das terras pertencem a menos de 20% dos proprietários, tem alguma coisa errada. E a coisa errada prosperou. A anistia foi ampla, geral e irrestrita. O nosso dinheiro continua financiando a compra de veneno. No crédito agrícola, sai mais dinheiro para compra de veneno do que para a agricultura familiar. Veneno não é que os ruralistas chamam, em Brasília, de defensivos agrícolas. Qualquer embalagem com duas caveiras e dois ossos não é defensivo, é veneno. Esse lobby tem mais dinheiro do que a agricultura familiar. (O Brasil utiliza nas lavouras, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa – pelo menos 10 produtos banidos pela União Europeia e pelos Estados Unidos. Um deles, no Paraguai.)

Guaiaó: A que você credita essa derrota? Quais foram os motivos?

Mário Mantovani: O Governo, nos últimos tempos, vem cedendo a todo tipo de chantagem por causa da governabilidade. Aceitou vender a mãe e – o que é pior – entregava. No país com recessão brava, de onde vinha o dinheiro? Da venda do agronegócio. Brigamos como movimento social a vida toda: o Brasil não poderia ser um país de monocultura. Um país que só entrega a bolinha de soja. Por que não processa aqui? Por que tem que sair uma bolinha de Rondônia, atravessar o país e chegar no Porto de Santos, parando a Via Anchieta com os caminhões? Olha que insanidade! O crédito agrícola que usa 70% das águas brasileiras exige que um motorista, com salário R$ 800, dirija em estradas cheias de buracos, arriscando a vida dele e de outros para embarcar no Porto de Santos. Não tem sentido ou lógica. Derruba matas e concentra terras. Expande a fronteira agrícola para cima da Amazônia e o Poder Público tem que levar escola, posto de saúde e transporte. É um custo muito caro para o Brasil.

Guaiaó: Qual é o quadro hoje?

Mário Mantovani: São cinco milhões de propriedades, que ocupam 560 milhões de hectares. Deste total, 60 milhões são áreas de cultivo, de abobrinha à soja. 200 milhões são pasto para gado, para sermos um dos maiores exportadores de carne do mundo hoje. O pasto saiu das regiões Sul e Sudeste e hoje se desloca para a região da Amazônia. E onde estão os 300 milhões? Especulação! Ora, 60 milhões tem na Mata Atlântica para serem usados. Não precisa invadir outros biomas, levar uma infraestrutura. Por que não se fazem agrovilas planejadas na Amazônia? Com a garantia de energia, água, transporte, silagem. Hoje, é especulação. E a irrigação é feita com dinheiro público.

Guaiaó: No litoral de São Paulo, o maior adversário da Mata Atlântica é a especulação imobiliária? Qual é a situação hoje?

Mário Mantovani: É. Mas a situação hoje é muito boa. Temos um aliado que ninguém possui: a Serra do Mar, que estabelece o limite. Você tem bairro-cota, as ocupações de parque, claro. O Estado não faz a intervenção que precisa. É um conflito bem específico. O litoral daqui, do ponto de vista de preservação da Mata Atlântica, é o melhor do Brasil. O Vale do Ribeira está bem, em termos de preservação. Mas não podemos deixar nas mãos de prefeitos e vereadores. Tem que estar nas mãos da sociedade. O primeiro mapeamento do Brasil foi feito pela sociedade, com apoio das universidades e dos meios de comunicação.

Guaiaó: O que significam, para as cidades do litoral de São Paulo, os Planos Municipais de Mata Atlântica?

Mário Mantovani: No nosso caso, é garantir o que sobrou. O que a natureza nos deu, a Serra do Mar. Combater as desigualdades nas áreas especulativas. Aqui, retira-se o pequeno proprietário, os caiçaras. No Plano Municipal de Mata Atlântica, onde há cobertura florestal, onde o código genético está preservado, o proprietário tem que ser reconhecido como protetor de floresta. A área com impacto precisa ser estudada. A ideia é que a sociedade reconheça a mata como ativo, como patrimônio. Não é a SOS ou o Governo do Estado quem vai dizer o que fazer.

Guaiaó: Qual é a sua expectativa sobre a reação das Prefeituras? As Prefeituras sofrem pressões políticas do capital especulativo imobiliário.

Mário Mantovani: São 3400 municípios no país. É um aprendizado. Nós queremos trazer informações para a sociedade. Assim como quando publicamos o Atlas da Mata Atlântica. Na época, os produtores de celulose do Paraná mudaram para conseguir o selo internacional e vender lá fora. Denunciamos Minas Gerais, pelo quinto ano consecutivo, como o Estado que mais desmata no país. Nossa ideia no litoral é a mesma coisa. Pré-sal, inadequação dos portos, especulação imobiliária comprometem a qualidade de vida. O maior problema do litoral é a ocupação irregular e a criação de atividades econômicas só para o turismo, para alguém que vem aqui seis vezes por ano, no máximo. Nós invertemos. Colocamos aqui o que tinha de mais fácil.

Guaiaó: Mas dá para mudar?

Mário Mantovani: Não pode continuar. O que posso mudar? Olha o contrassenso. Até alguns atrás, ninguém queria morar no mato. Hoje, mora em frente. Passou a ser um ativo. Qual é o discurso? More perto da natureza, more no verde. Pintam até de verde o chão. Uma área natural é um ativo. Chegar para o sujeito e dizer: seu mar está cheio de cocô, sua qualidade de vida está comprometida, não há mais áreas de circulação, há problemas de segurança, saúde e educação. Você vai continuar neste roteiro ou seguir outro modelo? Essa escolha tem que ser feita pela sociedade. A sociedade precisa comprar essa história e interferir. A válvula de escape são as leis que envolvem a Mata Atlântica. Não podem mais ser papéis do promotor chato, do ambientalista chato. O Plano Municipal é isso!

Guaiaó: No caso de Santos, há a Área Continental, com grande concentração de Mata Atlântica e pouca densidade populacional. Há a possibilidade de criação de Unidades de Conservação por lá?

Mário Mantovani: Quanto custaria para as cidades abrir uma área como essa? Em 1988, apoiamos um estudo da Magda Lombardo, uma jovem de 25 anos da USP. Ela falava naquela época em ilhas de calor. Diferenças em São Paulo de até 8ºC. (Em Santos, a diferença chega a 6ºC, comparando a orla e bairros atrás de duas linhas de prédios). Na época, era uma besteira. Hoje, é conceito mundial.

Guaiaó: E os mananciais do litoral do Estado?

Mário Mantovani: Vou inverter a pergunta. Qual é a luta da SOS Mata Atlântica? Que nenhum dos rios receba esgoto. Se não houvesse esgoto, teríamos uma possibilidade muito maior. A Bilings, por exemplo. Não temos a visão de planejamento. As cidades crescem de qualquer jeito. Não se pode crescer em direção à Serra do Mar. Essa terra tem que ficar para nossos filhos, nossos netos. Os parques, as áreas de preservação ambiental, não são do Governo. São meus, são nossos! Mas é preciso educação. Se a sociedade decidisse acabar com o despejo irregular de esgoto, não teríamos mais praias impróprias. O sujeito vê a placa e, mesmo assim, toma banho de mar. 70% das doenças têm origem hídrica.

Guaiaó: Como pode ser feito politicamente hoje? O que você quer dizer com papel da sociedade?

Mário Mantovani:
As pessoas precisam ocupar os Conselhos Municipais de Meio Ambiente. Hoje, há muita pressão do setor especulativo, que interfere na Lei de Uso e Solo. Deve haver o Parlamento. Mas a sociedade precisa pressionar para garantir qualidade de vida. Fizemos uma proposta mais interessante. Na Lei da Mata Atlântica, quem faz cumprir a legislação é o conselho, que inclusive está acima do prefeito. Já que temos uma condição ambiental favorável, quem poderia cuidar disso? A sociedade, como sempre foi. Todas as denúncias e enfrentamentos vieram da sociedade. 

"A luta ambiental mudou de estratégia", diz Mantovani

Mário Mantovani adora falar de Internet. Adora conversar via Internet. Ele vê, no meio virtual, o novo caminho para o discurso ambiental. Para ele, o que vale é falar de meio ambiente, ainda que sejam ambientalistas de teclado e sofá. O novo ambientalismo se faz por pequenas mudanças, no nível da individualidade do cidadão, ao mesmo tempo em que se envolve com temas amplos, em escala global. “A revolução saiu do gueto. Muitos movimentos fracassaram porque ficaram nos guetos e sofrem com isso.”

As redes sociais seriam instrumentos essenciais para a descoberta e difusão das cadeias de consumo. Qual é o caminho do produto, da matéria-prima até às prateleiras das lojas? Onde se pratica o trabalho escravo? São perguntas que podem ser respondidas com maior velocidade pelos meios virtuais, na opinião de quem começou no ambientalismo se comunicando por mimeógrafo.

Guaiaó: Como você entende a participação da sociedade, quando muitos dos comportamentos estão ligados ao consumo?

Mário Mantovani: Pois é. Comecei brigando, nos anos 70, contra os militares. Mas acho que a grande sacada, para o futuro, é o consumo. Sua pegada é o consumo, a prática. Tudo o que for feito passa pelo consumo, da roupa ao combustível, da comida ao cartão de crédito. As primeiras informações vinham pelo mimeógrafo e a turma ainda queria beber o álcool. (risos) Anos 80! Hoje, você tem a imagem. As pessoas falam do panda, do urso polar. O mundo globalizou. Você consegue falar de Belo Monte, na região Norte. Nos anos 80, eu falava de Jureia e o sujeito me olhava com aquela cara de “sobre o que você está falando?” As pessoas me perguntavam em que lugar da Amazônia ficava a Mata Atlântica. Criamos um tema, levamos para a sociedade, justificamos e ele virou um tema científico-técnico. No caso do Código Florestal, conseguimos levar o debate em âmbito nacional. É o processo civilizatório. O Brasil é muito novo. Pegamos a rebarba do mundo.

Guaiaó: A forma de sensibilizar o cidadão deixou de ser mais abstrata, de valores, e passou a ser uma discussão mais concreta, do cotidiano? Ou seja: o que o consumidor pode ou não comprar?

Mário Mantovani: Não é ainda, mas será. Você já tem exemplos em várias partes do mundo. Quando eu imaginaria que uma folha de papel é de fontes conhecidas renováveis? Quando eu imaginaria que as sacolinhas dos supermercados virariam uma discussão nacional? Hoje se fala do teor de sódio no alimento. É o máximo. É uma discussão importantíssima e que ainda não chegou nas classes mais baixas. A mídia ainda vende produtos nocivos, sem responsabilidade.

Guaiaó: Mas não pode ser apenas imagem?

Mário Mantovani: Mas é a imagem que está vendendo. Estamos falando de micro-revoluções. Pode ser um tema da semana. É mais fácil pressionar o Poder Público. É mais fácil conseguir uma celebridade. A árvore da sua rua, tua coleta seletiva, a praça da tua rua que está abandonada. Um bilhão de pessoas no mundo estão no Facebook. E olha que no Brasil o celular não pega. Imagina se pegasse! Nós vamos aprender a usar. Eu sou um tiozão de 60 anos que conta histórias no Facebook. Antes, contava no boteco, hoje falo imediatamente com 20 mil pessoas. O ciberativismo tem os dois lados, como o ativismo tinha antes da Internet. Tem o ativista de sofá que faz o papel dele. O legal do Meio Ambiente é que cabe tudo. Nunca teve altruísmo. Antes, tinha ideologia. Quando briguei contra as usinas nucleares, eu queria mesmo era brigar com os militares. E as usinas eram um jeito legal de engajar as pessoas. Antes, eu tinha que procurar informações na Barsa, hoje a informação está disponível para todos.

Guaiaó: A crise da água tem relação com isso, não?

Mário Mantovani: Claro, é um problema de consumo. A irrigação no Brasil, que desperdiça água para todo lado. Retira-se água do rio sem controle. Vejo a crise como oportunidade, como a do apagão de energia, de alguns anos atrás. Vamos ter que repensar. Qual é o grande drama do Brasil? Achar que nada tem limite. Deus que deu. A floresta, a água. 40% da água tratada é perdida. Dentro da visão do consumo, se conseguirmos acabar com o desperdício, avançaremos como civilização. Tudo é desperdício. 60% das verduras se perdem no caminho. É uma cadeia de desperdício. Alguns países já sentiram a falta, talvez por causa de guerras, e aprenderam. Nós, não.

Guaiaó: Como você vê o papel do Estado, no caso de São Paulo?

Mário Mantovani: Vários aspectos. O assunto foi mal encaminhado pelo Governo do Estado. Primeiro, foi usado como tema de campanha eleitoral. Segundo, o governador não tinha que chamar para si a responsabilidade. Desde 1991, existe o Comitê de Bacias Hidrográficas. O cenário estava aí desde a década de 90. Além disso, tem um problema sério: a tendência de transferir a responsabilidade. Na Sociedade de Consumo, precisamos entender que temos direitos. Pagamos os impostos mais altos do mundo.

Guaiaó: E as empresas? Elas mudaram mesmo de postura?

Mário Mantovani: Primeiro, as empresas descobriram que a poluição era, na verdade, desperdício. Olha o conceito! Pesou no bolso. Não era amor à causa nem precisa. Estavam jogando fora matéria-prima. Tecnologia também. As empresas perceberam que esta mudança se pagava e ainda dava lucro. Depois, o maior capital da empresa: a imagem dela. O nome de uma empresa pode valer mais do que todos os ativos. As empresas precisam mostrar que são limpas. E há também a pressão da opinião pública.

*****

Mário Mantovani é viciado em política. Ele passou as duas últimas décadas em Brasília. “Paguei mico por 14 anos. Só nos últimos seis, aprendi como lidar com os parlamentares e com o Governo.”

São três dias por semana na capital federal, onde discute, apresenta e pressiona os parlamentares por mudanças e aprovações de leis ambientais. “Fico mais tempo lá do que muitos deputados. Virei um lobista pelo Meio Ambiente. Mas nunca tive filiação partidária.”

Guaiaó: O que mudou depois de 20 anos em Brasília? Você precisou sair da rua para as coisas acontecerem?

Mário Mantovani: São duas coisas. É preciso ter uma causa, uma causa importante para o país dentro de um processo civilizatório. Isso te dá liberdade para fazer qualquer coisa em Brasília e não pagar mico. É preciso dar sentido. Antigamente, você não tinha. Eu tinha uma prática da redemocratização do Brasil, das Diretas, de alguns movimentos nos anos 80. Ver as pessoas combatendo a ditadura. Cada ato, por menor que fosse, tinha sentido da multidão. Estávamos aperfeiçoando a história que o Brasil estava construindo. O processo de redemocratização criou uma onda de cidadania tão forte que assuntos mais diversos apareceram. E eles se materializaram na Constituição de 1988. Não era direita, não era esquerda. Eu era ambientalista. Tanto que o pessoal me chamava de melancia, verde por fora, vermelho por dentro. Nascia no Brasil essa semente ambientalista, que gera um movimento social. Os ambientalistas elegeram um deputado constituinte, o Fábio Feldmann. Dizíamos que tínhamos uma Kombi, onde cabiam todos os ambientalistas do Congresso. Hoje não é muito diferente, mas temos outra dinâmica.

Guaiaó: Como é essa dinâmica hoje?

Mário Mantovani: Hoje, a gente está em movimento de formação. Não é ideológico e não queremos que seja ideológico. Se naquele momento (anos 80) interessava ter uma cara verde para marcar posição, hoje quero que o cara da Cultura, o cara da Tecnologia, o cara da Habitação, o cara da Saúde e o da Educação. Todos eles têm que ser verdes. Se não, fica rotulado como grupo. Não quero ser chamado de ambientalista para competir com o ruralista, com alguém de outro lobby. Naquele momento, quando se conseguiu colocar na Constituição o capítulo do Meio Ambiente, isso mudou a perspectiva. Em outros países, isso não existia. A Carta Magna trazia direitos que antes eram impensáveis. Nós tínhamos a visão de um país que teria a Lei dos Crimes Ambientais, a Lei das Águas, a Lei da Biodiversidade. O Brasil falava disso em 1990. O movimento depois arrefeceu, entrou em 1992 embalado (Rio 92). O mais importante era que uma base de Meio Ambiente estava muito bem feita. Qualquer movimento estava calçado. A luta pela Mata Atlântica era fazer a regulamentação de um bioma, previsto pela Constituição. Com aquela prática, viemos para o Congresso Nacional. O primeiro movimento era testar a democracia.

Guaiaó: Como você lida hoje com o Congresso dividido, todo fatiado em bancadas, mesmo com intersecção entre elas?

Mário Mantovani: Buscando um ponto comum. Por exemplo: a Lei de Resíduos Sólidos. Buscamos um deputado que tinha conhecimento, profundidade, trouxemos os interessados, de catadores às indústrias, porque esta lei estava há 20 anos no Congresso. Fazíamos manifestações de todo tipo. Levávamos bolo para comemorar 10 anos da lei, entrávamos com crianças, abraçávamos, subíamos de balão, invadíamos, levávamos grupo de palhaços.

Guaiaó: Hoje, estes protestos perderam o sentido ou precisam de outros caminhos?

Mário Mantovani: Isso nunca vai perder o sentido. Você tem que ter uma ação para fora, para aparecer, gritar, espernear, mas tem que ter um grupo lá dentro, negociando e conversando, com advogados. É o que se faz em Brasília hoje.

Guaiaó: Foi necessária a profissionalização da causa ambiental para se lidar com as instituições de poder?

Mário Mantovani: Tinha que ter, mas não pode perder o sentido de movimento social. O que diferencia o movimento ambiental é juntar pessoas com as mais diversas queixas. Árvores, águas, construção de barragens. Este grupo que se junta para o embate e busca direitos coletivos não pode morrer nunca. Mas uma parte disso precisou se profissionalizar. Nós nos inspiramos em grandes movimentos, como Greenpeace, WWF, Conservation. Precisa de um CNPJ, precisa de gente para responder, entrar com ações na Justiça. Precisa de uma ação mais efetiva. A SOS Mata Atlântica contrata imagens de satélite para mapeamento. São 3400 municípios. Qualquer coisa com três hectares, nós pegamos. Numa ação na Justiça, tem a outra parte, que pedirá indenização por danos morais. A SOS fez uma profissionalização que é referência. Muitas entidades começaram e ficaram pelo caminho.

Guaiaó: Neste cenário que você coloca, o Partido Verde perde o sentido de existência?

Mário Mantovani: Não perde. Mas há um partido, o Partido Ecológico Nacional (PEN), que não tem nada de ecológico. O Partido Verde ganhou espaço no mundo todo, mas viveu momentos de altos e baixos como outros partidos. Todos os partidos estão em baixa. Cada partido ganhou uma marca. O PMDB, de oportunistas e negociatas. O PT, que chamam de petralhas, foi muito importante. Essa dinâmica partidária não pode estar atrelada ao ambientalismo. Se eu me filiar a um partido, posso ser reduzido a isso. Se eu me candidatar, podem alegar que faço pela candidatura.

Guaiáo: Você já pensou em desistir? Qual foi o pior momento na tua história como ambientalista?

Mário Mantovani: Foram muitos momentos, cada uma à sua maneira. Eu diria que a situação mais difícil não é a luta com Brasília. Nenhuma organização tem esse histórico de política pública, com a legitimidade de ser nacional. Não me lembro de um momento em que quase parei. Tomei pancadas fortes, como o Código Florestal, mas voltei lá só de raiva. A luta contra as usinas nucleares foi outra derrota.

Guaiaó: Qual é o futuro da política ambiental?

Mário Mantovani: Não há mais espaço só para amor à causa, o bicho-grilo, paz e amor. Aquilo era intuitivo. Era o tempo da metamorfose ambulante. Hoje, a transformação é rápida, mas se trabalha com informação e tecnologia. Neguinho vê a informação e diz: “vamos fazer um aplicativo disso.” Um exemplo: estava na Universidade Santa Maria, falando para 200 pessoas sobre água, um grupo heterogêneo. A palestra estava difícil, ninguém perguntava. Até que sugeri que se fizesse uma grupo no WhatsApp para as perguntas. Em três minutos, um moleque organizou e choveram perguntas. Choveram perguntas! Depois, outro menino sugeriu fazer um aplicativo para o Plano Municipal de Mata Atlântica.

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O que não precisava ser dito

Mário Mantovani nasceu em 20 de dezembro de 1955, em Assis, no interior de São Paulo. Passou a infância às margens do rio Parapanema. Estudou técnico em Contabilidade e Mecânica Industrial na cidade natal e trabalhou como bancário.

Ele entrou na PUC-SP aos 19 anos, em 1975, e se formou em Geografia cinco anos depois. Em 40 anos de ambientalismo, Mário passou do voluntariado à profissionalização. Atualmente, ocupa o cargo de diretor de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica, organização que ajudou a fundar em 1986.