quinta-feira, 9 de abril de 2015

Sete pontos (e muitas perguntas) sobre o incêndio na Alemoa


Foto: Solange Freitas - G1-Santos
O incêndio nos tanques da Ultracargo, na Alemoa, em Santos, nos possibilita – infelizmente – testemunhar certos aspectos da cidade que é vendida como exemplo de qualidade de vida. E, por conta disso, nascem diversas dúvidas, dificilmente respondidas pelos homens de terno que se reúnem, se reúnem, se reúnem, dão entrevistas, dão entrevistas e silenciam quem estava na linha de frente, pessoas preocupadas não só em apagar o fogo, mas também informar sobre os riscos e os impactos do segundo incêndio do gênero no mundo. 

Eis algumas breves constatações e dúvidas:

1) Logística - O incêndio na Alemoa expõe, novamente, a precariedade da infraestrutura logística de Santos. O porto opera sempre no limite e isso fica claro quando acontece um incidente mais grave. Não aprendemos com 2013, quando houve congestionamento de caminhões. Pouco se fez. Prosseguimos dependentes das vias rodoviárias. Investe-se aquém do necessário em sistema ferroviário e, quando se fala no assunto, é a distorção do tema.

2) Caminhões – os caminhoneiros, como bucha de canhão, sofrem com a desatenção e desorganização das autoridades. Medidas paliativas foram tomadas pela Codesp, a partir de conversas com a Prefeitura de Santos. Por que não se criou um protocolo para situações como essa? Por que não se elaborou um documento que permitiria, passo a passo, executar ações para minimizar o prejuízo econômico e, acima de tudo, humano? Por que se esperou acontecer o problema, sabendo-se dos riscos e das experiências anteriores? Isso sem falar nos caminhoneiros, há dias tomando banho em restaurantes, comendo de maneira improvisada, entre outras dificuldades cotidianas.

3) Política - Os políticos agiram como se esperava deles: a) necessidade de aparecer e lentidão para agir, além das disputas internas de comando; b) criação de comitês e outros penduricalhos burocráticos para resolver um problema com atraso. Aliás, por que comitês de segurança e prevenção não existiam? c) a adoção de estratégias midiáticas, como a contratação de especialistas americanos, para dar a sensação – depois de uma semana – que se têm consciência do que deve ser feito. Uma semana? 

O ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi
(centro da foto - Imagem: Mariane Rossi/G1)
4) Social - Os prejuízos econômicos e ambientais são falados de vento em popa. Precisam ser discutidos, mas e o prejuízo social? Trabalhadores e moradores da região, o que será feito em relação a essas pessoas? Não é o momento para se aprender e se pensar – num futuro próximo - em simulação de acidentes, treinamento dos moradores dos bairros próximos para evacuação? Além disso, planejamento urbano nas imediações de locais com alto risco de acidentes é relevante, não? Um adendo: como ficará a saúde dos cerca de 100 bombeiros, expostos há dias a produtos químicos no combate ao incêndio?

5) Satisfação - Quando os dirigentes da Ultracargo vão mostrar seus rostos e cumprir sua obrigação de explicar - PUBLICAMENTE - o que aconteceu e como a empresa lidará com suas responsabilidades?

6) Informação - Prevalece a guerra de informação. Bombeiros silenciados por engravatados. Boatos e informações desencontradas, plantadas muitas vezes por quem deveria esclarecê-las. Menos preocupação com marketing político-eleitoral, por favor. Qual é a diferença entre Comitê de Crise e Gabinete de Integração, se ambos significam palavrório como “tudo sob controle”?

7) Meio Ambiente - Houve vítimas fatais sim. Sete toneladas de peixes. Como ficam os pescadores artesanais? Alguém se lembrará deles e a limitação de sua subsistência? Haverá impacto sobre o consumo de pescado em alguma área da Baixada Santista? Quais são as recomendações para o consumidor, embora boa parte dos peixes consumidos venha de outras regiões do país? Mas o consumidor sabe disso?

Para onde foram os peixes recolhidos pela empresa contratada pela Ultracargo? Cetesb e Ibama vão continuar com o discurso de "tudo sob controle", em coro com muitos políticos? Por que as duas instituições não tomaram atitudes mais rigorosas diante do impacto ambiental?

Mais perguntas do que respostas. A prova viva da desinformação disseminada e da preocupação em se proteger politicamente do que, na prática, esclarecer a dimensão do problema. Falta, acima de tudo, transparência.

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