sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Vaidade e política

A Baixada Santista manteve o resultado histórico nas eleições do domingo passado. No Poder Executivo, repetiu – em linhas gerais – a postura pró-tucana, em rejeitar o governo Dilma e dar a liderança de votos para Geraldo Alckmin.

No Poder Legislativo, se permanecermos na leitura inicial, podemos esconder ilusões e mascarar certos equívocos que se repetiram durante a campanha. Historicamente, a região manteve a média de três deputados federais – João Paulo Tavares Papa (PSDB), Beto Mansur (PRB) e Marcelo Squassoni (do mesmo partido).

No caso de deputado estadual, a situação foi um pouco mais complicada, mas o resultado aponta causas semelhantes. A Baixada Santista emplacou três parlamentares - Caio França (PSB), Cássio Navarro (PSDB) e Paulo Côrrea Junior (PEN). A região chegou a ter cinco parlamentares em outras gestões.

Nenhum dos três eleitos ao Congresso teve uma votação de assustar os analistas. Pelo contrário. Mansur e Squassoni tiveram votações tímidas, 31.301 e 31.315, respectivamente. Os dois devem a Celso Russomano, o mais votado do Estado, as cadeiras em Brasília. Mansur repetiu a estratégia da eleição anterior, quando se elegeu por conta do resultado de Paulo Maluf. Na época, Mansur era filiado ao PP.

Até João Paulo Tavares Papa correu riscos. Durante a apuração, chegou a ser o último da lista de eleitos pelo PSDB. O número de votos (117.590) não se compara com os resultados de Márcio França, o mais votado do litoral sul, em 2006 (215.388 votos) e 2010 (172.005).

Para deputado estadual, Caio França fez uma campanha mais equilibrada, fruto também da influência paterna. Ficou com 123.138 votos, sendo cerca de 60% da região e 40% de outras áreas do Estado. O quadro é muito parecido com o de Paulo Côrrea Júnior. O votação foi mais apertada (38.489), ele entrou na lista de eleitos no final da apuração, mas distribuiu os votos na mesma proporção de Caio pelo Estado.

Cássio Navarro, genro do prefeito de Praia Grande, Alberto Mourão, teve 50.093 votos. Dois terços foram em Praia Grande, 85% na Baixada Santista. Um risco alto, que aponta o maior problema dos candidatos da região.

Muitos indicaram Samuel Moreira, eleito deputado federal pelo PSDB, como o sétimo parlamentar do litoral sul. No entanto, a base dele é o Vale do Ribeira. O que importa, no entanto, é que Moreira fez campanha além dos limites do domicílio eleitoral. 60% dos votos de Registro, principal cidade do Vale, foram para ele, é verdade, mas são apenas 19 mil dos 227 mil votos.

A lição está neste aspecto. Samuel Moreira conduziu uma campanha agressiva na Baixada Santista e em outros pontos do Estado. Teve quase o dobro de votos de João Paulo Tavares Papa, do mesmo partido. Aliás, por aqui aconteceu o contrário, em várias cidades. Vereadores de vários municípios – em Santos, pelo menos três parlamentares – apareciam em fotos de campanha com candidatos de outras regiões, além de fazer propaganda no corpo a corpo.

Além disso, a Baixada Santista nunca teve tantos candidatos. Foram 115 contra 100 em 2010. 49 candidatos a deputado federal e 66 a estadual. A maioria deles serviu para tirar votos dos grandes concorrentes, reforçando apenas a legenda e fazendo vitrine para a eleição municipal em 2016.

Voltamos às lições de Samuel Moreira. No Vale do Ribeira, há relativo consenso em torno do nome dele, que canaliza votos e o torna – com clareza – o representante daquela região. Assim o fez na Assembleia Legislativa, assim aconteceu na eleição de domingo. Isso sem discutir os méritos do mandato dele; avalia-se somente o número final da votação.

A eleição também apontou o desgaste de nomes antigos da política. Beto Mansur entrou raspando pela segunda vez. Telma de Souza ficou como terceira suplente do partido. Professor Fabião será segundo suplente do PSB. Maria Lúcia Prandi não se reelegeu deputada federal, assim como Luciano Batista, estadual. Mariângela Duarte teve a pior votação da carreira.

Os partidos não se renovaram, em linhas gerais. No PT, o cenário é mais grave, porque apareciam sinais claros nas eleições municipais de 2012. Os políticos mais novos, como Caio França e Cássio Navarro, devem ser relativizados porque representam dinastias familiares, no poder há 20 anos.

O resultado final é que os candidatos da região tiveram 34% menos votos para deputado federal, comparando com 2010. São aproximadamente 225 mil votos a menos.

O índice percentual se repete para deputado estadual. São cerca de 326 mil votos em concorrentes de outras áreas de São Paulo. Pode-se considerar que Bruno Covas aparecia, em 2010, como candidato da Baixada Santista, antes de mudar de domicílio eleitoral. Mas, na prática, soa como desculpa para uma série de erros de campanha.

As urnas não mentem e fornecem lições, mas somente para quem tem interesse em aprender. Talvez seja a hora de descer do pedestal da vaidade e compreender que se tornou caso de sobrevivência voltar ao banco escolar eleitoral. A nova prova já está marcada: 2016.

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