sexta-feira, 12 de setembro de 2014

O preço de uma campanha


A vida mudou para Marina Silva. E não me refiro à mudança de candidatura por causa da morte de Eduardo Campos. A trajetória de Marina se alterou por conta das ações políticas que podem conduzi-la à vitória no segundo turno. 

Marina Silva, em capa de 2010. O que mudou?

Em 2010, ela era a candidata de protesto. Hoje, ela é uma candidata de fato. E isso vira do avesso o papel da ex-senadora do Acre e o peso de suas palavras e atos. A chance de acabar com a polaridade PSDB-PT expõe suas posições mais polêmicas e – acima de tudo – suas alianças e seus grupos de apoio. Marina Silva virou o alvo preferencial de quem ainda não entendeu o que se passou no último mês, mas compreende que ela personifica o peão que sacudiu todo o tabuleiro.

A proximidade da eleição e o crescimento de Marina nas pesquisas fazem com os dois maiores partidos brasileiros se agarrem em todos os fios desencapados de seus comitês de campanha. A ordem é atirar contra a candidata do PSB. Qualquer opinião dela será dissecada e transformada em espetáculo, mesmo que seja parecida com a dos candidatos adversários.

A desinformação é a arma para tentar conter um segundo turno, sem Aécio Neves. Boatos e fofocas valem mais do que fatos. Se os fatos por acaso forem mais sólidos, por que não requentá-los em microondas?

O debate vazio sobre o aborto foi ressuscitado. Todos se esquivam, ninguém fala sobre políticas públicas. A mudança de posição sobre o casamento gay no programa de governo de Marina pariu bandeiras de protesto, como se fosse uma novidade diante de uma candidata com raízes religiosas fortes e como se programa não fosse peça de ficção científica.

Marina Silva canalizou também a intenção de voto útil. Nas conversas do cotidiano, muitas pessoas passaram a prestar atenção nela pelo espírito anti-PT e pelo cansaço do modelo tucano, multiplicador de projetos e marketing.

Neste sentido, o discurso ambiental – que seduziu na corrida eleitoral de 2010 – virou fundo de prateleira. Não seria coerente agora um olhar sustentável de mundo, ao lado de um vice que carrega a influência do agronegócio.

É triste testemunhar que a campanha eleitoral caiu novamente na vala superficial dos ataques pessoais e dos temas desconectados de políticas públicas. Em outros momentos, os candidatos tratam educação, saúde e economia de maneira tão genérica que parecem discursar sobre entidades espirituais.

Os ataques contra Marina Silva também envolvem o cardápio de alianças da candidatura dela. O PSB, um partido até ontem no Governo Federal, tenta se exibir como baluarte de nova política, quando caminha com sapatos tão gastos que dá ver as meias pelos furos das solas.

Quem seria tão ingênuo em crer que se tornou possível, dentro do sistema político brasileiro, governar com chapa pura, sem esqueletos de alianças embaixo da cama? Ou alguém acredita que os amigos de hoje de PT e PSDB, se sentirem o cheiro de derrota, não mudarão de endereço como se nada tivesse acontecido?

Votar em Marina Silva é arriscar os dados não somente pela ausência de experiência administrativa dela, mas principalmente pelo novo cenário de alianças que se desenha. É apostar em loteria. Mas, fazendo o advogado do diabo, qual candidato não seria?

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