quinta-feira, 6 de março de 2014

Curtir, comentar e compartilhar votos




A eleição deste ano será a primeira em que a Internet – principalmente as redes sociais – pode ter um papel de protagonismo nos rumos das campanhas. As redes sociais apareceram como coadjuvantes nos dois últimos pleitos, em 2010 e em 2012, mais pela cobertura da imprensa e pela procura por informações dos eleitores na contagem dos votos. 

No caso dos candidatos, apenas os cachorros maiores entenderam que deveriam profissionalizar a relação com os eleitores, mas alguns se limitaram a criar perfis profissionais.

A lição de que as redes sociais são essenciais para o processo político veio da equipe de Barack Obama, em 2008. Ali, ficou cristalina a necessidade de produzir informações e criar mecanismos de aproximação com o eleitor no mundo virtual. A estratégia incluía respostas rápidas para reações do público e para conteúdos desfavoráveis na imprensa, independentemente da mídia.

Desde o ano passado, os políticos da Baixada Santista dão sinais de que começaram a entender as mudanças. Muitos secretários e vereadores, em Santos, dialogam diretamente com outros usuários de Facebook. O secretário de Cultura, Raul Christiano, por exemplo, possui cinco perfis.

A Câmara Municipal de Santos criou um sistema de chat para as audiências públicas, que permite a participação do público sem estar presente no local. As audiências são transmitidas desde abril do ano passado pelo canal de TV a cabo do Poder Legislativo.

Em Cubatão, secretários municipais se revezam – desde janeiro – no atendimento ao público via rede social. É o chamado Gabinete Virtual, espécie de plantão de atendimento no Facebook. A prefeita Márcia Rosa e o secretariado participam, desde o início de fevereiro, de uma reunião semanal na qual qualquer cidadão pode participar, com inscrições por e-mail. Os encontros acontecem às segundas-feiras, às 8 horas, na Prefeitura.

O problema é que, quando nos afastamos de cidades grandes ou médias, torna-se latente a baixa percepção dos políticos sobre comunicação online. O publicitário Thiago Peres Teves produziu, no ano passado, um estudo sobre o papel das redes sociais entre os vereadores de Mongaguá. Os resultados assustaram. Dos 13 vereadores, somente quatro divulgam os trabalhos legislativos pelo Facebook. Deles, um possui página oficial como vereador.

Todos os parlamentares de Mongaguá possuem perfis pessoais na rede social, mas predominam as fotos de família e comentários genéricos sobre festas, almoços e outros tipos de eventos.

Mais do que um avanço, conversar ou abrir canais para os eleitores é uma questão de sobrevivência. Diante de uma imagem tão desgastada, a classe política teve que migrar para o mundo virtual a fim de reconstruir uma relação com o público.

No entanto, as redes sociais não são vistas pela classe política como um instrumento de cidadania. Os conteúdos indicam, acima de tudo, propaganda camuflada, geralmente livre da legislação eleitoral.

No mundo online, a campanha eleitoral corre na quinta marcha. Mesmo oficialmente pré-candidatos, muitos concorrentes já contam com um exército de colaboradores que mobilizam seus perfis para enaltecer os empregadores ou atacar os adversários. A remuneração pode se estender aos blogs, com empresas estatais como anunciantes.

A produção de informação está além de multiplicar links ou agir como máquinas de curtir mensagens. Diariamente, nascem postagens falsas – em forma de cartazes ou de reportagens – que visam desmoralizar o partido inimigo. O esgoto eleitoral fica mais evidente entre os peixes grandes, que realimentam a política como um Fla-Flu, cenário resumido a petistas e tucanos.

De fato, os irmãos são quase gêmeos. São como Caim e Abel, dentro e fora da Internet. Nas palavras, nos atos e nas ilusões.

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