sexta-feira, 20 de julho de 2012

O fim da fraternidade


Santos adora alardear seu pioneirismo. É culturalmente valioso ser o primeiro em alguma coisa, seja no esporte, nas artes ou na política. Um exemplo disso é o projeto República de Idosos, criado há mais de 15 anos e que gerou cópias em várias cidades brasileiras.

A República de Idosos é uma reprodução adaptada das repúblicas universitárias. Os moradores passam por uma triagem antes de residir em um imóvel custeado pela Prefeitura. Lá, dividem as despesas e a administração da casa, supervisionados por uma psicóloga, uma assistente social e uma operadora social.

Antes, os idosos viviam sozinhos e apresentavam dificuldades de relacionamento familiar. Hoje, muitos deles agradecem pela convivência e pela possibilidade de socialização, inclusive em outros projetos da Prefeitura.            

Santos chegou a ter quatro repúblicas, com aproximadamente 40 moradores, todos acima de 60 anos. Mas na última semana, a Prefeitura fechou, em silêncio, a República Fraternidade, localizada na rua Silva Jardim, perto do Mercado Municipal.

A casa, que pertence a uma instituição particular, apresentava sérios problemas estruturais. Infiltrações, rachaduras e comprometimento do telhado eram queixas recorrentes – em outras palavras, uma pilha de ofícios – na Secretaria de Assistência Social. O imóvel abrigava três moradores, mas tinha capacidade para receber quatro vezes mais idosos. O número era reduzido por conta das deficiências da moradia.

A Prefeitura ensaiou mexer no imóvel, mas apenas o conserto do telhado ficaria em R$ 15 mil. Decidiu fechar a casa e não procurar outro endereço, embora haja fila de espera para morar nas repúblicas. Dos três moradores, um se mudou para a residência de uma amiga. Os outros dois foram transferidos para outras repúblicas, que operam no limite da capacidade.

A decisão de fechar uma das quatro repúblicas de idosos, um programa reconhecido nacionalmente, simboliza o clássico comportamento de final de gestão. Por que “inventar” se faltam menos de seis meses para terminar o governo? Por que se preocupar com os próximos quatro anos se não há garantias de continuidade?

É fato que parte da administração está preocupada com a campanha eleitoral, na qual o candidato do governo necessita de uma dose cavalar de recuperação nas pesquisas eleitorais. E, neste sentido, acredita-se que a máquina municipal poderá andar com as próprias pernas, guiadas pelo corpo técnico. Tanto que meia dúzia de secretarias passou para as mãos de profissionais de carreira, em parte servidores concursados.

O fechamento de uma das repúblicas também indica que, nos últimos anos, a assistência social não passou de personagem coadjuvante. O projeto era uma exceção na cidade onde 20% da população têm mais de 60 anos. Na prática, um oásis diante da quantidade de pessoas que necessitam de moradia, mas a Prefeitura preferiu seguir o sentido contrário. O serviço encolheu em vez de se pensar em ampliação.

A Santos da qualidade de vida é uma ilusão de classe média, que mascara outro município que sai da toca depois das 18 horas. Para os idosos mais pobres, clínicas de repouso – para usar o nome politicamente correto – são um sonho distante, salvo as poucas vagas que aparecem por conta dos convênios entre instituições e administração municipal.

Santos envelhece de maneira irreversível, embora não seja um processo exclusivo daqui. É para ontem a necessidade de se melhorar as condições de vida da população mais velha. É uma parcela dos moradores que, de fato, não tem mais tempo a perder. 

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