Santos adora alardear seu
pioneirismo. É culturalmente valioso ser o primeiro em alguma coisa, seja no
esporte, nas artes ou na política. Um exemplo disso é o projeto República de
Idosos, criado há mais de 15 anos e que gerou cópias em várias cidades
brasileiras.
A República de Idosos é uma reprodução adaptada das repúblicas
universitárias. Os moradores passam por uma triagem antes de residir em um
imóvel custeado pela Prefeitura. Lá, dividem as despesas e a administração da
casa, supervisionados por uma psicóloga, uma assistente social e uma operadora
social.
Antes,
os idosos viviam sozinhos e apresentavam dificuldades de relacionamento
familiar. Hoje, muitos deles agradecem pela convivência e pela possibilidade de
socialização, inclusive em outros projetos da Prefeitura.
Santos chegou a ter quatro repúblicas, com
aproximadamente 40 moradores, todos acima de 60 anos. Mas na última semana, a
Prefeitura fechou, em silêncio, a República Fraternidade, localizada na rua
Silva Jardim, perto do Mercado Municipal.
A casa, que pertence a uma instituição particular, apresentava
sérios problemas estruturais. Infiltrações, rachaduras e comprometimento do telhado
eram queixas recorrentes – em outras palavras, uma pilha de ofícios – na
Secretaria de Assistência Social. O imóvel abrigava três moradores, mas tinha
capacidade para receber quatro vezes mais idosos. O número era reduzido por
conta das deficiências da moradia.
A Prefeitura ensaiou mexer no imóvel, mas apenas o
conserto do telhado ficaria em R$ 15 mil. Decidiu fechar a casa e não procurar
outro endereço, embora haja fila de espera para morar nas repúblicas. Dos três
moradores, um se mudou para a residência de uma amiga. Os outros dois foram
transferidos para outras repúblicas, que operam no limite da capacidade.
A decisão de fechar uma das quatro repúblicas de idosos,
um programa reconhecido nacionalmente, simboliza o clássico comportamento de
final de gestão. Por que “inventar” se faltam menos de seis meses para terminar
o governo? Por que se preocupar com os próximos quatro anos se não há garantias
de continuidade?
É fato que parte da administração está preocupada com a
campanha eleitoral, na qual o candidato do governo necessita de uma dose
cavalar de recuperação nas pesquisas eleitorais. E, neste sentido, acredita-se
que a máquina municipal poderá andar com as próprias pernas, guiadas pelo corpo
técnico. Tanto que meia dúzia de secretarias passou para as mãos de
profissionais de carreira, em parte servidores concursados.
O fechamento de uma das repúblicas também indica que, nos
últimos anos, a assistência social não passou de personagem coadjuvante. O
projeto era uma exceção na cidade onde 20% da população têm mais de 60 anos. Na
prática, um oásis diante da quantidade de pessoas que necessitam de moradia,
mas a Prefeitura preferiu seguir o sentido contrário. O serviço encolheu em vez
de se pensar em ampliação.
A Santos
da qualidade de vida é uma ilusão de classe média, que mascara outro município que
sai da toca depois das 18 horas. Para os idosos mais pobres, clínicas de
repouso – para usar o nome politicamente correto – são um sonho distante, salvo
as poucas vagas que aparecem por conta dos convênios entre instituições e
administração municipal.
Santos envelhece de
maneira irreversível, embora não seja um processo exclusivo daqui. É para ontem
a necessidade de se melhorar as condições de vida da população mais velha. É
uma parcela dos moradores que, de fato, não tem mais tempo a perder.
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