domingo, 22 de julho de 2012

Notas sobre uma pesquisa eleitoral


A pesquisa feita pelo Ibope e publicada pelo grupo A Tribuna, neste final de semana, confirmou o que outras duas pesquisas indicavam para a Prefeitura de Santos. Do final de 2011 para cá, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) é o homem a ser batido. Liderando desde o começo da corrida eleitoral, Paulo Alexandre não tem fôlego hoje para ganhar no primeiro turno, mas parece assistir da varanda aos demais adversários brigarem pela segunda vaga no segundo turno.            

O candidato tucano não se envolve em polêmicas, evita debater as feridas do Governo do Estado e insiste em falar sobre os recursos destinados como parlamentar à cidade de Santos quando andava de braços dados com o prefeito João Paulo Tavares Papa. Bem orientado, Paulo Alexandre jamais anunciou o término do namoro político com o prefeito, até porque parte do eleitorado acredita que o tucano é o candidato de Papa à sucessão, fator que ajuda a entender a baixa rejeição em todas as pesquisas eleitorais.            

Se Paulo Alexandre apareceu com 35% no Ibope, Telma de Souza (PT) está com 25%. O percentual assegura com folga o segundo lugar, mas também constrói um castelo de preocupações. A candidata paralisou neste número. Como crescer sem virar vidraça? É o velho problema que Telma enfrenta nas eleições para o Poder Executivo.

Numa analogia futebolística, Telma seria como o Corinthians. Disputa um campeonato de fórmula conservadora, possui uma torcida fiel e com bases populares, mas consegue unir as demais torcidas contra si quando chega às finais. A rejeição de Telma, por exemplo, gira em torno de 30% nas pesquisas. E redutos tradicionais, como morros e Zona Noroeste, não representam mais fidelidade cega, natural após 16 anos em que o PT está afastado da Prefeitura. 

candidato do PP, Beto Mansur, subiu nas pesquisas. Chegou aos 11%, suficiente para colocá-lo no páreo antes do horário eleitoral e há dois meses e meio da eleição. O problema de Mansur é, definitivamente, a rejeição do eleitorado, por volta de 40% em todas as pesquisas. Qualquer dado isolado compromete o olhar sobre a corrida. Porém, quando a rejeição se repete em três pesquisas diferentes, em um patamar tão elevado, é fundamental ligar o sinal de alerta para sobrevivência.

Mansur precisa ir além de listar as realizações de sua administração. Já se passaram oito anos. Ele também não pode mais se agarrar à paternidade política sobre seu sucessor. Papa ganhou vida e prestígio próprios. E não vai empurrá-lo de volta ao Paço Municipal.

A vida em Brasília também é distante demais do eleitor comum. Sem entrar no mérito dos itens acima, o candidato do PP necessita sofisticar a estratégia para reduzir a distância de Telma. Caso contrário, morrerá na praia que tanto adora caminhar nos finais de semana.

No entanto, as dificuldades de Telma de Souza e Beto Mansur parecem peixe pequeno diante do alçapão que se abriu na candidatura de Sérgio Aquino (PMDB). O candidato oficial de Papa chafurda nos 2% da pesquisa Ibope. Nas demais pesquisas, oscila entre 3% e 4%. A pequena diferença escancara uma candidatura que necessita de curativos para estancar o sangue.

Aquino apresenta baixa rejeição, até porque é um ilustre desconhecido. Neste sentido, ele se assemelha ao candidato do PT em São Paulo, Fernando Haddad, não apenas nos índices de intenção de voto. Haddad é apoiado por um padrinho forte, mas 40% dos eleitores pesquisados não o conhecem.

Nas ruas de Santos, multiplicam-se os cartazes lambe-lambe em que o ex-secretário de Assuntos Portuários aparece ao lado de Papa. Nas redes sociais, Aquino também está em fotografias com o prefeito, numa caminhada na orla da praia, por exemplo.

Será que benção de Papa é suficiente para inserir Aquino – de verdade - na disputa? Aguardar o horário eleitoral gratuito, como salvação da lavoura, é aposta de virada de mesa? Repetir a trajetória de Papa não seria rezar para um raio cair duas vezes no mesmo lugar?

Sergio Aquino se encontra atrás de Fabio Nunes, o Fabião (PSB). Ex-secretário de Meio Ambiente e, portanto, ex-base de apoio do prefeito, Fabião teve 5% das intenções de voto. Ele é carismático, possui boa imagem entre os jovens e os ambientalistas de boutique da classe média. O problema é a falta de dinheiro e o próprio partido, em que parte dos militantes adoraria estar em outra canoa.

Até onde vai a candidatura de Fabião? Seria uma nova Marina Silva, de discurso coerente de desenvolvimento sustentável, a ser abandonada pela sigla na discussão de apoios do segundo turno? A única saída para Fabião seria “sequestrar” eleitores dos três candidatos à frente. Como fazê-lo?

As justificativas dos candidatos para os percentuais fingem variar para alcançar a obviedade. Faz parte do jogo em curso. Transitam entre a humildade de quem está na frente à retórica de que “pesquisa é retrato de momento” para quem peleja atrás.

Alguns sonham com mudanças quando o horário eleitoral gratuito chegar. Outros reforçam a conversa de gastar sola de sapato e debater propostas com a população. Nada que manche o figurino pré-determinado para este momento da campanha.

Os demais quatro candidatos, em legendas nanicas e de dinheiro curto, seguem na posição previsível: a lanterna das pesquisas. Eventualmente, um ou outro alcança 1% das intenções de voto, dependendo do instituto. 

Um ou outro demonstra interesse em colocar propostas na mesa. O problema é descobrir se o eleitorado médio está disposto a ouvi-los. Para os nanicos, a trajetória linear parece ser a estação de desembarque no início de outubro. 

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