Marcus Vinicius Batista
Em democracias mais maduras, partidos ainda são capazes de representar um conjunto de ideias e construir uma agenda de propostas, a serem seguidas por seus políticos com mandato. Em democracias mais jovens e pouco confiáveis, partidos atendem às desconfianças do eleitor, da imprensa e da própria classe política, que os vê como portos provisórios para projetos individuais, quando não como legendas de aluguel.
O eleitor, bobo só de vez em quando, sabe disso e – quase sempre – vota em pessoas, e não em siglas partidárias. Até porque, em um país com 34 partidos, as próprias legendas nada cumprem o que esbravejam ou sussurram.
A eleição para a presidência da Câmara de Santos simbolizou o carnaval partidário brasileiro. O vereador Manoel Constantino, do PMDB, foi eleito com 14 votos. Era candidato único. Sete vereadores não votaram e, portanto, não houve abstenções.
A votação coroou o teatro político da semana. Embora ninguém fale abertamente, a costura já estava pronta quando o ex-presidente Marcus de Rosis foi enterrado. Na segunda-feira, dois dias depois da morte do vereador, 12 vereadores anunciaram a escolha de Constantino como novo presidente do Legislativo. Ele havia presidido a casa em 2011/2012.
O outro parlamentar do PMDB, Antônio Carlos Banha Joaquim, não fazia parte do time. Chiou, mas votou em favor do colega na quinta-feira. Hugo Dupreé, do PSDB, integrava o grupo, ignorou os colegas de partido e confirmou seu voto em Constantino.
O problema é que os demais parlamentares tucanos, mais os do PR, reclamaram que não foram consultados da “eleição” antecipada de segunda-feira e se retiraram do plenário antes da votação. Mas não apresentaram uma alternativa ao longo da semana.
A bagunça se estende nas relações com o Poder Executivo. O PMDB é da base aliada do governo Paulo Alexandre Barbosa e se sabe que De Rosis sonhava com uma candidatura à vice-prefeito em 2016. Ou, pelo menos, um representante do PMDB. Agora, a ideia perde impacto e outros jogadores mostrarão as cartas. Entre os vereadores, os que votaram e os que saíram do plenário, pode ter certeza, haverá paz em breve.
A morte de Marcus de Rosis, na prática, faz com que o PMDB, que teve dois dos cinco prefeitos anteriores à Paulo Alexandre, fique ainda mais fraco. Constantino é o vereador mais antigo, é visto como conciliador, mas não poderá fazer verão sozinho diante da saída de tantos militantes.
A vaga de Marcus de Rosis reforça a fragilidade do sistema partidário. Geonísio Pereira Aguiar, o Boquinha, seria o primeiro suplente. Mas, com o final do governo Papa, voou para o lado de quem venceu. Ele pleiteou a vaga, mas perdeu provisoriamente o lugar para Fabio Duarte, hoje sem partido.
Duarte assumiu com uma liminar nos braços, alegando infidelidade partidária de Boquinha. Duarte ficaria com a vaga por ser do PSD, que integrava a coligação. Mas, como é PM, não pode ser filiado a partidos, exceto em períodos eleitorais. O segundo suplente, Fabiano da Farmácia, está hoje no PHS.
Diante de uma briga jurídica, quem perde é o PMDB. O partido perdeu, de fato, um vereador, pois qualquer um dos substitutos não têm vínculos com a sigla. O PMDB, que protagonizou as lutas políticas da cidade no século passado, hoje é um desenho nítido do que se transformaram os partidos, principalmente pelas ações dos próprios políticos.
E olha que nem mencionei as relações entre PT e PMDB no Governo Federal e na Câmara dos Deputados, sob as asas de Eduardo Cunha.
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