terça-feira, 11 de agosto de 2015

O político clássico

O ex-presidente da Câmara de Santos, Marcus de Rosis
Marcus Vinicius Batista

O ex-presidente da Câmara de Santos, Marcus de Rosis, tinha o perfil clássico do político. O vereador, falecido no último sábado, reunia uma série de características comuns aos parlamentares da velha escola. Não é o caso de entrar no mérito de suas gestões como comandante do Poder Legislativo nem endeusá-lo, como se faz usualmente quando há a morte de uma liderança, e sim tentar compreender qual papel ele exercia dentro do contexto político contemporâneo da cidade.

De Rosis tem a herança genética, a exemplo dos Barbosas, Franças e Bargieris. Ele era filho do ex-vereador Oswaldo De Rosis, que dá nome ao plenário da Câmara Municipal; aliás, nome escolhido pelo próprio Marcus. Como em muitos casos na Baixada Santista, o filho perpetua a carreira do pai.

Marcus de Rosis tornou-se vereador aos 28 anos e presidiu o parlamento de Santos pela primeira vez, aos 33. Foi o mais jovem presidente da história da cidade. Ele não era um político da velha escola somente pela longevidade como vereador – cumpria o sexto mandato e, provavelmente, se candidataria para o sétimo -, mas também porque foi picado pela mosca azul, gíria para os políticos sempre próximos do poder.

Ninguém se sustenta como presidente do Poder Legislativo por tanto tempo à toa, sem a capacidade de transitar pelos diversos órgãos do corpo que movimenta a política. Embora tivesse um temperamento explosivo, traduzido pela fala em tom mais elevado, Marcus de Rosis era o articulador clássico. Sabia costurar uma aliança, com amigos e adversários. Elegeu-se, por exemplo, presidente da Câmara pela última vez com 18 votos, de colegas de sete partidos, inclusive do PT.

O lado temperamental aflorava nos debates histéricos no plenário, como as brigas com a então vereadora Cassandra Maroni Nunes, do PT. Discussões que entraram para a história e o folclore da política recente.

De Rosis também soube canalizar para si o foco das relações com o Poder Executivo. Representou o governo Papa no Legislativo, assim como manteve o nível das relações com o atual prefeito, Paulo Alexandre Barbosa. Por conta disso, chegou a ocupar a secretaria de Esportes na gestão Beto Mansur e tinha voz ativa na composição de uma aliança com o PSDB para as eleições de 2016. O PMDB lutava para indicar o vice-prefeito.

O ex-presidente da Câmara era, como manda a cartilha da escola tradicional, um homem de partido. Filiou-se ao PMDB no tempo em que Oswaldo Justo não apenas era prefeito, como o homem-forte da sigla. De Rosis resistiu como uma das últimas lideranças de um partido enfraquecido, mesmo depois da saída de Papa e da debandada de muitos militantes para a terra dos tucanos.

Como adepto do estilo antigo, Marcus de Rosis havia se adaptado ao novo cenário, sem abandonar as velhas teorias. De vez em quando, ao se sentir preterido, ele esbravejava publicamente e nasciam os boatos de que o PMDB poderia ter candidato próprio ou até lançar o próprio De Rosis à Prefeitura. Os balões de ensaio se quebravam quando ele conseguia o que desejava e a gritaria esvaziava em palavras de conciliação.

Quem acompanha política sabe que até poderia haver o sonho de ser prefeito, mas De Rosis jamais embarcaria numa aventura, com o risco de perder o lugar onde cresceu e se desenvolveu na política, a Câmara Municipal. Ali, ele praticava outro tipo de poder, capaz de diálogos horizontais com o Poder Executivo e obter ganhos secundários em termos políticos.

Marcus de Rosis também carregava outra característica comum aos políticos que nasceram eleitoralmente no século 20. O ex-presidente da Câmara estendia seu exercício político para o futebol, outra esfera em que se misturam paixão e poder, arquibancada e plenário. De Rosis, irmão do ex-jogador Rui, presidiu a Portuguesa Santista no início dos anos 90, época do retorno ao futebol profissional.

A partir de quinta-feira, a Câmara de Santos terá novo presidente. 12 vereadores se comprometeram a votar em Manoel Constantino, outro político da velha guarda, com três décadas de Legislativo. O tom de voz pode diminuir em plenário, mas o jeito de fazer política se manterá nos mesmos decibéis.


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