sábado, 17 de novembro de 2012

Vergonha danada!



Quando as eleições terminam, a classe política começa a mostrar como realmente pensa. Ou como realmente administra a cidade. Em Cubatão, bastou a reeleição de Marcia Rosa (PT) para que ficasse clara a posição da Prefeitura em relação às políticas culturais. A primeira notícia foi o cancelamento do Festival Danado de Bom, que envolve a cultura nordestina. 

Cubatão é uma cidade construída às custas de muito suor de migrantes nordestinos, desde as obras para a implantação do Parque Industrial, passando pela construção das rodovias Imigrantes e Anchieta. Hoje, a estimativa é que seis em cada dez moradores nasceram ou são descendentes de nordestinos.

O Festival já tinha dinheiro garantido de empresas privadas e do Governo do Estado. O cancelamento veio porque a Prefeitura alegou não ter recursos para a contrapartida. O Festival limitou-se a um concurso gastronômico, com menos repercussão e de custo quase zero.

Cubatão, uma cidade marcada pelo trabalho, sofre com as limitações de entretenimento e lazer. O teatro, condenado ao silêncio e à poeira, virou um elefante branco com quase duas décadas de vida. O cinema chegou ao município há dois meses, depois de anos de ausência de salas de exibição.

Ao virar as costas para a população logo após as eleições, a prefeita Marcia Rosa abre margem para algumas perguntas. O Festival não deveria estar incluído no orçamento municipal, elaborado e entregue à Câmara no final do ano anterior? Se isso não aconteceu, onde se deu o erro de planejamento, já que o evento fazia parte do calendário da cidade?

A Prefeitura alega que houve queda na arrecadação. Não daria para fazer um festival mais tímido, com dinheiro das empresas e do Governo? Ou, sabendo das dificuldades financeiras, a Prefeitura não poderia estender o chapéu para outras indústrias, por meio de leis de incentivo? Quais explicações a administração dará aos patrocinadores que cumpriram seus acordos profissionais de bancar o festival?


Marcia Rosa apenas reiterou um comportamento típico da classe política: encarar a cultura como um badulaque, um enfeite que pode ser retirado da sala de jantar assim que a festa acaba. Neste sentido, cultura não soa como digna de política pública, somente de eventos pontuais próximos a períodos eleitorais. Aliás, até que ponto a campanha eleitoral pode ter interferido nas contas da Prefeitura, em déficit, como explica a própria administradora municipal? 

A etapa de transição é o golpe de estelionato nos eleitores. Neste período de dois meses e meio, as prefeituras costumam entrar em paralisia. Mudanças de segundo e terceiro escalões, cancelamento de eventos, promessas e projetos enterrados nas urnas eletrônicas são práticas comuns.

O Festival Danado de Bom, na frieza dos gabinetes, engrossa a lista de realizações destinadas às gavetas. Com elas, a retórica de que a ressurreição acontecerá em 2013. Por enquanto, a palavra empenhada pela prefeita. É possível acreditar nela?

A cultura nordestina, tão eclética quanto fundamental para a construção da identidade do município, engrossa o coro de vítimas das promessas de campanha. Será um sinal de que o governo cumprirá o destino das gestões reeleitas, a de caminhar no piloto automático?
 

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