sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
O novo passageiro
O prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa, resolveu andar de ônibus essa semana. Acordou cedo, chegou de carro à praça Jerônimo La Terza, no Jardim Rádio Clube e tomou um ônibus até o Terminal do Valongo. Ele estava acompanhado pelo presidente da CET, Antônio Carlos Gonçalves.
No trajeto, o prefeito perguntou aos passageiros sobre qualidade do transporte, horários, pontualidade e limpeza dos veículos. E aproveitou a presença da imprensa para prometer que os motoristas deixarão de ter dupla função em abril. Os passageiros deverão ter cartão de transporte para andar de ônibus. Não haveria mais pagamento em dinheiro.
O que o prefeito esperava encontrar na viagem? O sistema de transporte da Dinamarca? É necessário andar de ônibus para descobrir que os motoristas de ônibus têm um emprego desgastante, com dupla função, além de dirigir por horas, sem descanso, em um trânsito cada vez pior?
Esta ação de marketing é realmente fundamental para o prefeito ter certeza de que os luminosos nunca acertam os horários de passagem dos coletivos? São necessários holofotes da mídia local para o prefeito descobrir que os ônibus parecem carregar gado em várias horas ao dia? Ele poderia perguntar ao presidente da CET, que está no governo há 16 anos e conhece bem a cidade.
O “Conheça Santos” que o prefeito improvisou esta semana poderia estimulá-lo a pensar o modelo de transporte e trânsito que o município adotou nos últimos 20 anos. Até que ponto a Prefeitura vai questionar as ações da empresa que detém o monopólio do transporte público? Não precisa entrar em coletivo para ouvir um rosário de reclamações. Qualquer ponto de ônibus é suficiente para compreender o óbvio.
O passeio do prefeito de Santos é uma atitude comum entre políticos. A escola da política é apartidária e, por conta disso, padroniza comportamentos, principalmente na hora de encenar para os eleitores. É claro que existe a conivência da outra parte, mas políticos seguem regras básicas como abraçar idosos, beijar crianças e experimentar comidas, inclusive as exóticas.
No caso de alguns partidos, como o PSDB, existe um fascínio por andar de transporte público. Seria culpa inconsciente pelos serviços (mal) prestados? José Serra e Geraldo Alckmin adoram passear, por exemplo, de trem e metrô. É item obrigatório na cartilha de campanha.
O marketing que mascara governos conta com a tolerância da sociedade. Na prática, o prefeito Paulo Alexandre Barbosa não tomou medida alguma. Como é preceito básico da bíblia política, parecer costuma gerar mais resultados do que exercer.
O tour via ônibus aconteceu na quarta-feira. No dia seguinte, os usuários que madrugam e precisam de coletivo na Zona Noroeste continuaram esperando muito tempo pelo transporte, viajaram apertados, pagaram por uma passagem proporcionalmente cara e foram conduzidos por motoristas exaustos para uma jornada de trabalho difícil. E que clonam a si mesmos como cobradores.
Paulo Alexandre Barbosa já provou ser excelente aluno na escola da política. Nunca perdeu uma eleição. Sabe que ensinar também significa aprender o que não se deve fazer. Por isso, torço para que o prefeito não compartilhe da lição do chefe de turma José Serra, que veio inaugurar a maquete de uma obra na Ponta da Praia, em 2010. Aliás, obra cancelada pelo governador eleito Geraldo Alckmin logo na primeira semana de trabalho dele.
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