sexta-feira, 8 de junho de 2012
Nós, os tubarões e as sardinhas
Depois de dois meses, a indústria do plástico e os supermercados mudaram a estratégia na batalha das sacolinhas. A briga entrou na fase da Guerra Fria, onde as faíscas são abafadas pelo jogo diplomático e pela máquina de propaganda. Embora com mísseis apontados para o adversário, a compostura e o sorriso amarelo são mais importantes para conquistar corações e mentes, como recomenda o clichê da zona de conflito.
Agora, é preciso convencer consumidores e imprensa pela suposta frieza dos números. Nada como adotar a manipulação de dados estatísticos, legitimados por pesquisas de opinião, para confirmar uma tese que flerta com a redundância, enquanto mantém o público em seu papel de coadjuvante.
Na semana passada, o Datafolha divulgou uma pesquisa sobre o fim da distribuição de sacolas plásticas nos supermercados do Estado. De acordo com o estudo, sete em cada dez entrevistados defendem a retomada da distribuição gratuita de sacolas plásticas.
A pesquisa indica também que quatro em dez entrevistados desistiu da compra por conta da ausência de sacolas para transporte dos produtos. E que dois terços acreditam que o fim da distribuição beneficiou os supermercados, enquanto um terço crê em benefício ambiental com a medida.
A pesquisa do Datafolha pode apontar uma tendência de comportamento, mas um detalhe precisa ser ressaltado. O estudo foi encomendado pelo Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos (Plastivida), que atende aos interesses da indústria do plástico.
É claro que isto não abala a credibilidade do Datafolha. Só reforça o argumento de que o óbvio se transforma em “novidade estatística”. A maioria dos consumidores não se acostumou e, evidentemente, ainda rejeita a mudança nos supermercados.
A Associação Paulista do setor se defende com outros números. Em declaração ao jornal Folha de S.Paulo, o presidente da entidade, João Galassi, cita o exemplo de Jundiaí, no interior do Estado. Na cidade, o consumidor teria entendido os benefícios do fim da distribuição. Em números: 77% dos clientes aprovaram o banimento, explicou Galassi.
A disputa entre a indústria do plástico e os supermercados se assemelha à rivalidade entre dois tubarões no tanque de um aquário. Enquanto os donos do espaço estão distraídos com a demarcação do território, sempre sobra espaço para os peixes pequenos se alimentarem melhor, além de que deixam de ser base da cadeia por algum tempo.
Em Santos, é possível perceber o aumento de vendas em muitas padarias, empórios e mini-mercados. Como estão fora do acordo com o Ministério Público, estes pontos de venda transformaram a distribuição de sacolinhas em sinônimo de atendimento diferenciado e fidelização de clientes. Alguns até criaram promoções diretamente ligadas à distribuição de sacolas.
Infelizmente, o debate está limitado à própria pontualidade do tema. Na verdade, exemplifica como o meio ambiente é somente um enfeite na prateleira, sem uma perspectiva aprofundada de mudança estrutural. Ou seja: os supermercados, sem as sacolas gratuitas, continuam como o paraíso de embalagens, a terra do plástico que garante segurança, beleza, qualidade e pureza aos alimentos. Simbolicamente, claro, assim como a guerra entre tubarões da mesma espécie.
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