sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Carta ao Cascão


Caro Cascão, escrevo para me desculpar com você. Usei seu nome em vão. Não cheguei a gritar aos quatro ventos. Sequer sussurrei com amigos próximos, como fofoca de família. Mas o ato de pensar em seu nome me deu a sensação de cometer uma injustiça.            

Você, Cascão, nunca espalhou sujeira. No máximo, uma fedentina que afetou os amigos próximos, principalmente o que fala errado. Por causa do medo de água, te confundi com outro personagem de seu universo, o Capitão Feio. Ao morar nos esgotos, este vilão obscuro sempre tentou te arrastar para o caminho da poluição, mas jamais conseguiu por ser contra sua natureza.

Lembrei-me de você como metáfora do que acontece na minha cidade. Você personificaria o comportamento de centenas de candidatos que, como o Capitão, emporcalham o cenário de tantas histórias. E o chiqueiro só aumentará até outubro.

Os “sugismundos” não são criativos. Copiam uns aos outros como seres da mesma espécie. Começam a invasão lentamente, com os cartazes lambe-lambe. Misturam-se a shows, ícones religiosos e publicidade em geral.

Tenho saudades de um grupo que, com humor, escrevia mensagens em cavaletes de candidatos, há quatro anos. Conheci alguns dos autores que, espirituosos, entendiam sua arte como protesto e reuso destes objetos que massacram visualmente as esquinas.

Mas a luta deles é inglória. A sujeira, caro amigo, ganhou tamanho e mobilidade. Os colantes, antes tímidos, agora ocupam todo o vidro traseiro dos carros, fora as bicicletas. Nomes, números, slogans clichês e rostos sorridentes se cruzam em um trânsito cada vez mais entupido pela cultura do automóvel e pela ausência de políticas públicas de transporte.

Cascão, sua aversão ao banho nasceu na mente e nos traços em papel de teu pai, Maurício de Souza. Marcou a infância de muitos leitores iniciantes como eu. Mas você soube “crescer” e estender sua presença em novas tecnologias para alcançar as crianças de hoje. Minha filha brinca com você e o restante da Turma da Mônica na Internet. Meu filho te assiste em DVD.

Os clones do Capitão Feio também descobriram o mundo virtual e o transformaram numa versão emporcalhada da realidade concreta. É chavão, para eles, citar a candidatura de Barack Obama – o presidente dos EUA, sabe? – como exemplo de sucesso na campanha nas redes sociais. Mas ninguém leu as estratégias, todos ignoraram o papel da Internet na política e não entenderam o contexto particular daquele país.

Por conta disso, eles fizeram da tela do computador uma caçamba de entulho. São os mesmos santinhos que calam as bocas-de-lobo, agora na versão on-line. Há candidatos que vomitam fotos de si mesmos a cada meia hora. Quem se julga mais criativo espalha imagens de eventos. Qualquer acontecimento de rodapé de página é alçado à notícia do ano. Missa, churrasco, passeio em calçadão; vida ordinária vira sujeira pública virtual.

Sua sujeira, caro amigo, sempre foi parte de você. Mas apenas de ti. Entre os que poluem a cidade, há até aqueles que se vestem de verde. De fato, meio ambiente é uma retórica que sensibiliza muita gente, porém ausente da prática do dia-a-dia. Se você conhecesse minha cidade, veria quanto as crianças daqui convivem com o cinza do concreto.

Cascão, peço novamente perdão por pensar em seu nome. Sua vida pode ser suja, mas com o lirismo único das crianças que, no máximo, tentam fugir do banho. Por isso, você jamais entenderá até onde poderá chegar o nível de sujeira dos capitães. 

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Horário eleitoral, a esperança?


O horário eleitoral gratuito, que começa em 21 de agosto, parece ser a tábua de salvação para parte das candidaturas à Prefeitura de Santos. A principal delas é a de Sérgio Aquino (PMDB). No levantamento divulgado hoje, pelo Instituto de Pesquisas A Tribuna (IPAT), o candidato do prefeito Papa subiu de 2% para 3,6% das intenções de voto.
            
No último levantamento da Enfoque/Boqnews, divulgado na semana passada, Aquino chegou a 10%, mas segue em quarto lugar. Alcançar dois dígitos, na verdade, soou como fato isolado. O índice reforça a tendência de que a candidatura precisa de mais força para realmente pensar em um segundo turno contra Paulo Alexandre Barbosa. Metade dos entrevistados desconhece que Aquino é apoiado pelo prefeito, o que pode ser uma vantagem para o candidato do PMDB.

O candidato do PSDB, por sinal, somente espera por seu adversário. Na pesquisa do IPAT, Paulo Alexandre lidera com 40,9% contra 19% de Telma de Souza (PT), percentuais quase iguais aos do levantamento da Enfoque/Boqnews (39% contra 18,4%).  

As duas últimas pesquisas de opinião apresentam muitas semelhanças que, se somadas a levantamentos anteriores, se transformam em tendência. Jamais em aposta cega. Em ambos os casos, Paulo Alexandre apresenta crescimento contínuo e Telma, repetidas quedas, que alimentam as chances de Beto Mansur.

O candidato do PP segue em terceiro lugar, mas se aproximou de Telma. Na pesquisa Enfoque/Boqnews, Mansur subiu de 8,8% para 11,2%. Na IPAT, desceu de 18,3% para 12,1%. 

Os dois levantamentos apontam, basicamente, o mesmo percentual para o prefeito, ainda mais que a primeira pesquisa do IPAT aconteceu em maio deste ano. No caso da Enfoque/Boqnews, o intervalo foi de apenas um mês. De qualquer modo, o resultado tornou Beto Mansur – outra vez - perigoso para a candidata do PT.

Os dois trabalhos, no entanto, confirmam que é impossível fechar questão no momento. E reforçam a ideia de que o santista não entrou na campanha eleitoral. Todos os números apresentados acima são oriundos da pesquisa estimulada, quando os candidatos são apresentados aos eleitores.

Na pesquisa espontânea, 54,7% das pessoas ouvidas pelo IPAT não sabem em quem votar. Na Enfoque/Boqnews, pouco mais da metade poderá mudar de voto até outubro.

Por enquanto, o farol aponta que Paulo Alexandre Barbosa já recebeu a chave do segundo turno. A outra vaga estaria entre dois ex-prefeitos e o escolhido pelo atual administrador. Nesta radiografia, os demais cinco candidatos serão moeda de troca para segunda votação. 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Deus, o candidato



Dizer, hoje, que o Estado brasileiro é laico soa como heresia digna de fogueira. A relação entre política e religião perdeu os pudores como uma pecadora que resolve confessar seus erros diante do sacerdote. As eleições viraram, em várias igrejas, extensão do culto ou da missa, onde se discutem - sem máscaras – projetos de poder.

Não me refiro, claro, aos passeios que os candidatos fazem às instituições religiosas. Pedir votos sempre representou um ato tradicional e ecumênico. É tão comum vermos os políticos sentados na primeira fila de igrejas, templos e até terreiros quanto presenciá-los beijando crianças e idosos em feiras livres. Na fé eleitoral, o candidato vê o passeio como protocolo para levar à vitória, com a complacência de quem recebe o visitante indesejado na casa de Deus.

Segundo o jornal Folha de S.Paulo, a Assembleia de Deus, por exemplo, estabeleceu como objetivo eleger um vereador em cada uma das 5565 cidades brasileiras. A liderança da Igreja toma como base o Censo do IBGE. No país, são 42 milhões de evangélicos, sendo 12 milhões e 300 mil da Assembleia de Deus, a maior entre as pentecostais.

Política e religião nunca se uniram por missões altruístas, por questões públicas, no sentido literal da palavra. O namoro é sempre permeado pela rigidez moral, sempre genérica no discurso. Moral que esconde a intolerância dos moralistas, soldados de primeira ordem em apontar como os outros devem se comportar socialmente.

O moralismo que contamina a relação entre política e religião disfarça entendimento e preocupação pela coisa pública. Por trás da retórica de português correto e de fala mansa, nasce o olhar segregador que torna a instituição religiosa do candidato um microcosmo essencial para os benefícios quase que exclusivos das medidas sociais.

O suporte para o projeto de poder é a mídia eletrônica. Rádio e televisão, que antes atendiam às grandes instituições, de várias crenças, estão disponíveis para qualquer igrejinha que aluga um galpão ou compra uma antiga oficina mecânica. Entre os gigantes da fé, a Igreja Mundial do Poder de Deus, liderada pelo pastor Valdomiro, arrenda 22 horas diárias de programação televisiva na Rede 21.

O tamanho da casa de Deus não provoca diferenças na condução da palavra. O discurso político é padronizado e misturado à rigidez de comportamento, à batalha contra os assuntos que não se encaixam na doutrina e ao fortalecimento da família, não apenas o núcleo social mais básico, mas também a igreja como extensão do projeto eleitoral.

O Congresso Nacional, por exemplo, serve como termômetro da relação íntima entre política e religião. A Frente Parlamentar Evangélica é formada por 76 deputados federais e três senadores. Em 2006, eram 32 deputados e quatro senadores. Dependendo da questão envolvida, a Frente se transforma em bancada da fé, ao incluir representantes além do protestantismo.

Na eleição presidencial, em 2010, os parlamentares (e suas igrejas) conseguiram manter o debate medieval sobre aborto na agenda do segundo turno. É claro que sob a ótica do moralismo cristão, e não como política de saúde pública. Dilma e Serra caíram, conscientes, na armadilha, o que esvaziou a discussão sobre economia, educação e outros temas relevantes para a campanha eleitoral. 

Religião sempre será uma ação política porque, quando institucionalizada, se transforma em entidade com interesses que passam longe da pureza. E política não é necessariamente religião, embora seja uma questão de fé.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

4.189 mortes

A Polícia Militar de São Paulo matou, nos últimos sete anos, 4.189 pessoas. Deste total, 3.274 foram registradas como “resistência seguida de morte”, denominação genérica impregnada de suspeitas. Outros 915 casos foram considerados homicídios dolosos.

Dois episódios, esta semana, colocaram novamente a PM como sinônimo de matança. O empresário Ricardo Prudente de Aquino foi morto com dois tiros na cabeça na quarta-feira, em São Paulo, depois de uma perseguição por mais de 10 minutos. Ele levou dois tiros a cabeça. Estava desarmado. Os policiais dizem ter confundido um celular com uma arma.

Bruno Vicente Gouveia e Viana, de 19 anos, foi assassinado em Santos. Outras duas pessoas ficaram feridas. Os policiais atiraram 25 vezes contra o Gol onde estavam as vítimas. O motorista do veículo teria ignorado uma blitz porque estava com a carteira de habilitação vencida.

Digo novamente sinônimo de matança porque a instituição é acusada de excesso de violência em toda sua biografia. Da Rota malufiana ao massacre do Carandiru. Dos índices nos anos 90, média de quatro mortes por dia, ao assassinato de quatro rapazes em Praia Grande, sequestrados após a saída de um baile na vizinha São Vicente.

O Brasil chafurda numa guerra civil, principalmente nas grandes cidades. Não dá para ignorar 50 mil assassinatos por ano no país. Os cínicos (governantes e comandantes incluídos) podem argumentar que a PM mata hoje, em média, entre uma e duas pessoas por dia em São Paulo. Seria a metade de 20 anos atrás.

Por outro lado, poderia desfiar um rosário de dados sobre como a PM mata e prende pouco. Dois exemplos: 1) a Polícia Militar de São Paulo mata mais do que todas as forças de segurança dos Estados Unidos; 2) O número de prisões em SP é, proporcionalmente, 108 vezes menor do que nos EUA, o maior sistema prisional do planeta.

Mas estatísticas não justificam mortes. Reforçam a selvageria de quem as comete, na maioria dos casos. Banalizam e desumanizam vítimas e agressores. Servem de manipulação político-eleitoral. E fornecem um panorama geral, mas não se aproximam do contexto nem esclarecem as deficiências estruturais do sistema de segurança pública.

Os tradicionais obstáculos no cotidiano de um policial militar, de salário a armamento, são incapazes de justificar a mentalidade que contamina as relações deste servidor público com a população. A PM realimentou e preservou o olhar da autoridade, cultivo fértil durante a ditadura militar. E tornou trivial certos privilégios no contato com comerciantes, por exemplo, e nas atividades profissionais paralelas, como segurança privada.

A Polícia Militar é temida pela violência, e muitos acreditam que parte da corporação cede às tentações da criminalidade, fiéis à crença da impunidade. Mas parte da sociedade dá respaldo – a omissão é uma forma de concordância – à postura dos policiais. O senso comum cultua a premissa de que “bandido bom é bandido morto”.

Neste sentido, ainda prevalece a associação de que a marginalidade está concentrada em áreas periféricas e personificada em sujeitos sem escolaridade, de cor negra ou parda e jovem. A visão da polícia solidifica a imagem de que nas favelas só residem bandidos. Por trás deste rascunho de rótulo, escondem-se os preconceitos racial e sócio-econômico, compartilhado pela classe média e reproduzido pelos homens de frente da segurança pública.

Como disse o jornalista Caco Barcelos, por ocasião do livro “Rota 66”, a Polícia Militar tem, em sua mentalidade, a proteção do patrimônio, e não das pessoas. O repórter morou dois anos em Paris por conta das ameaças veladas e explícitas de policiais, alguns deles com cargo eletivo, feitas após a publicação do livro.

O cenário de hipocrisia provoca choque quando os policiais dão azar de matar alguém de dinheiro e/ou prestígio social. Ou quando parentes e amigos das vítimas resolvem rasgar a mordaça do medo e implorar – via imprensa – por justiça. Nasce o fingimento do novo, que luta para acobertar a rotina.

Os dois últimos episódios se encaixam perfeitamente nos dois fatores descritos acima. Uma vítima era empresário. No outro caso, família e amigos não se esconderam. Quantas vezes perseguições resultaram em mortes? Quantas vezes ficou no ar a desconfiança sobre drogas e armas encontradas em veículos? Parentes das vítimas negam com veemência a versão dos policiais presos.

Nem a Polícia Civil acreditou na história dos acusados. 25 tiros contra um carro com seis pessoas, “armadas” com um 22 e uma pistola de brinquedo? Quem pratica um sequestro-relâmpago com outras cinco pessoas dentro de um automóvel, conforme a suspeita dos PMs presos?

O treinamento da Polícia Militar é defendido de arma em punho pelos comandantes. Dentro do previsível espírito de corpo, o comando considerou as operações “tecnicamente corretas”, ao contrário do que declararam vários oficiais da reserva à imprensa. Novas perguntas: por que os PMs não atiraram nos pneus do carro do empresário, conforme se ensina em treinamento? Por que os dois tiros não foram disparados contra áreas não-letais da vítima, em vez dos dois tiros na cabeça, obviamente para matar?

As duas mortes, infelizmente, deverão engrossar um enredo de final clichê. As vítimas serão relembradas nas próximas matanças. Os PMs deverão ser condenados e expulsos da corporação. Mas a questão é que, enquanto a polícia brasileira sofrer de complexo de autoridade, continuaremos a testemunhar uma guerra civil digna de transformar conflitos armados em outros continentes em brincadeira de criança.

domingo, 22 de julho de 2012

Notas sobre uma pesquisa eleitoral


A pesquisa feita pelo Ibope e publicada pelo grupo A Tribuna, neste final de semana, confirmou o que outras duas pesquisas indicavam para a Prefeitura de Santos. Do final de 2011 para cá, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) é o homem a ser batido. Liderando desde o começo da corrida eleitoral, Paulo Alexandre não tem fôlego hoje para ganhar no primeiro turno, mas parece assistir da varanda aos demais adversários brigarem pela segunda vaga no segundo turno.            

O candidato tucano não se envolve em polêmicas, evita debater as feridas do Governo do Estado e insiste em falar sobre os recursos destinados como parlamentar à cidade de Santos quando andava de braços dados com o prefeito João Paulo Tavares Papa. Bem orientado, Paulo Alexandre jamais anunciou o término do namoro político com o prefeito, até porque parte do eleitorado acredita que o tucano é o candidato de Papa à sucessão, fator que ajuda a entender a baixa rejeição em todas as pesquisas eleitorais.            

Se Paulo Alexandre apareceu com 35% no Ibope, Telma de Souza (PT) está com 25%. O percentual assegura com folga o segundo lugar, mas também constrói um castelo de preocupações. A candidata paralisou neste número. Como crescer sem virar vidraça? É o velho problema que Telma enfrenta nas eleições para o Poder Executivo.

Numa analogia futebolística, Telma seria como o Corinthians. Disputa um campeonato de fórmula conservadora, possui uma torcida fiel e com bases populares, mas consegue unir as demais torcidas contra si quando chega às finais. A rejeição de Telma, por exemplo, gira em torno de 30% nas pesquisas. E redutos tradicionais, como morros e Zona Noroeste, não representam mais fidelidade cega, natural após 16 anos em que o PT está afastado da Prefeitura. 

candidato do PP, Beto Mansur, subiu nas pesquisas. Chegou aos 11%, suficiente para colocá-lo no páreo antes do horário eleitoral e há dois meses e meio da eleição. O problema de Mansur é, definitivamente, a rejeição do eleitorado, por volta de 40% em todas as pesquisas. Qualquer dado isolado compromete o olhar sobre a corrida. Porém, quando a rejeição se repete em três pesquisas diferentes, em um patamar tão elevado, é fundamental ligar o sinal de alerta para sobrevivência.

Mansur precisa ir além de listar as realizações de sua administração. Já se passaram oito anos. Ele também não pode mais se agarrar à paternidade política sobre seu sucessor. Papa ganhou vida e prestígio próprios. E não vai empurrá-lo de volta ao Paço Municipal.

A vida em Brasília também é distante demais do eleitor comum. Sem entrar no mérito dos itens acima, o candidato do PP necessita sofisticar a estratégia para reduzir a distância de Telma. Caso contrário, morrerá na praia que tanto adora caminhar nos finais de semana.

No entanto, as dificuldades de Telma de Souza e Beto Mansur parecem peixe pequeno diante do alçapão que se abriu na candidatura de Sérgio Aquino (PMDB). O candidato oficial de Papa chafurda nos 2% da pesquisa Ibope. Nas demais pesquisas, oscila entre 3% e 4%. A pequena diferença escancara uma candidatura que necessita de curativos para estancar o sangue.

Aquino apresenta baixa rejeição, até porque é um ilustre desconhecido. Neste sentido, ele se assemelha ao candidato do PT em São Paulo, Fernando Haddad, não apenas nos índices de intenção de voto. Haddad é apoiado por um padrinho forte, mas 40% dos eleitores pesquisados não o conhecem.

Nas ruas de Santos, multiplicam-se os cartazes lambe-lambe em que o ex-secretário de Assuntos Portuários aparece ao lado de Papa. Nas redes sociais, Aquino também está em fotografias com o prefeito, numa caminhada na orla da praia, por exemplo.

Será que benção de Papa é suficiente para inserir Aquino – de verdade - na disputa? Aguardar o horário eleitoral gratuito, como salvação da lavoura, é aposta de virada de mesa? Repetir a trajetória de Papa não seria rezar para um raio cair duas vezes no mesmo lugar?

Sergio Aquino se encontra atrás de Fabio Nunes, o Fabião (PSB). Ex-secretário de Meio Ambiente e, portanto, ex-base de apoio do prefeito, Fabião teve 5% das intenções de voto. Ele é carismático, possui boa imagem entre os jovens e os ambientalistas de boutique da classe média. O problema é a falta de dinheiro e o próprio partido, em que parte dos militantes adoraria estar em outra canoa.

Até onde vai a candidatura de Fabião? Seria uma nova Marina Silva, de discurso coerente de desenvolvimento sustentável, a ser abandonada pela sigla na discussão de apoios do segundo turno? A única saída para Fabião seria “sequestrar” eleitores dos três candidatos à frente. Como fazê-lo?

As justificativas dos candidatos para os percentuais fingem variar para alcançar a obviedade. Faz parte do jogo em curso. Transitam entre a humildade de quem está na frente à retórica de que “pesquisa é retrato de momento” para quem peleja atrás.

Alguns sonham com mudanças quando o horário eleitoral gratuito chegar. Outros reforçam a conversa de gastar sola de sapato e debater propostas com a população. Nada que manche o figurino pré-determinado para este momento da campanha.

Os demais quatro candidatos, em legendas nanicas e de dinheiro curto, seguem na posição previsível: a lanterna das pesquisas. Eventualmente, um ou outro alcança 1% das intenções de voto, dependendo do instituto. 

Um ou outro demonstra interesse em colocar propostas na mesa. O problema é descobrir se o eleitorado médio está disposto a ouvi-los. Para os nanicos, a trajetória linear parece ser a estação de desembarque no início de outubro. 

sexta-feira, 20 de julho de 2012

O fim da fraternidade


Santos adora alardear seu pioneirismo. É culturalmente valioso ser o primeiro em alguma coisa, seja no esporte, nas artes ou na política. Um exemplo disso é o projeto República de Idosos, criado há mais de 15 anos e que gerou cópias em várias cidades brasileiras.

A República de Idosos é uma reprodução adaptada das repúblicas universitárias. Os moradores passam por uma triagem antes de residir em um imóvel custeado pela Prefeitura. Lá, dividem as despesas e a administração da casa, supervisionados por uma psicóloga, uma assistente social e uma operadora social.

Antes, os idosos viviam sozinhos e apresentavam dificuldades de relacionamento familiar. Hoje, muitos deles agradecem pela convivência e pela possibilidade de socialização, inclusive em outros projetos da Prefeitura.            

Santos chegou a ter quatro repúblicas, com aproximadamente 40 moradores, todos acima de 60 anos. Mas na última semana, a Prefeitura fechou, em silêncio, a República Fraternidade, localizada na rua Silva Jardim, perto do Mercado Municipal.

A casa, que pertence a uma instituição particular, apresentava sérios problemas estruturais. Infiltrações, rachaduras e comprometimento do telhado eram queixas recorrentes – em outras palavras, uma pilha de ofícios – na Secretaria de Assistência Social. O imóvel abrigava três moradores, mas tinha capacidade para receber quatro vezes mais idosos. O número era reduzido por conta das deficiências da moradia.

A Prefeitura ensaiou mexer no imóvel, mas apenas o conserto do telhado ficaria em R$ 15 mil. Decidiu fechar a casa e não procurar outro endereço, embora haja fila de espera para morar nas repúblicas. Dos três moradores, um se mudou para a residência de uma amiga. Os outros dois foram transferidos para outras repúblicas, que operam no limite da capacidade.

A decisão de fechar uma das quatro repúblicas de idosos, um programa reconhecido nacionalmente, simboliza o clássico comportamento de final de gestão. Por que “inventar” se faltam menos de seis meses para terminar o governo? Por que se preocupar com os próximos quatro anos se não há garantias de continuidade?

É fato que parte da administração está preocupada com a campanha eleitoral, na qual o candidato do governo necessita de uma dose cavalar de recuperação nas pesquisas eleitorais. E, neste sentido, acredita-se que a máquina municipal poderá andar com as próprias pernas, guiadas pelo corpo técnico. Tanto que meia dúzia de secretarias passou para as mãos de profissionais de carreira, em parte servidores concursados.

O fechamento de uma das repúblicas também indica que, nos últimos anos, a assistência social não passou de personagem coadjuvante. O projeto era uma exceção na cidade onde 20% da população têm mais de 60 anos. Na prática, um oásis diante da quantidade de pessoas que necessitam de moradia, mas a Prefeitura preferiu seguir o sentido contrário. O serviço encolheu em vez de se pensar em ampliação.

A Santos da qualidade de vida é uma ilusão de classe média, que mascara outro município que sai da toca depois das 18 horas. Para os idosos mais pobres, clínicas de repouso – para usar o nome politicamente correto – são um sonho distante, salvo as poucas vagas que aparecem por conta dos convênios entre instituições e administração municipal.

Santos envelhece de maneira irreversível, embora não seja um processo exclusivo daqui. É para ontem a necessidade de se melhorar as condições de vida da população mais velha. É uma parcela dos moradores que, de fato, não tem mais tempo a perder. 

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Nós, os tubarões e as sardinhas



Depois de dois meses, a indústria do plástico e os supermercados mudaram a estratégia na batalha das sacolinhas. A briga entrou na fase da Guerra Fria, onde as faíscas são abafadas pelo jogo diplomático e pela máquina de propaganda. Embora com mísseis apontados para o adversário, a compostura e o sorriso amarelo são mais importantes para conquistar corações e mentes, como recomenda o clichê da zona de conflito.

Agora, é preciso convencer consumidores e imprensa pela suposta frieza dos números. Nada como adotar a manipulação de dados estatísticos, legitimados por pesquisas de opinião, para confirmar uma tese que flerta com a redundância, enquanto mantém o público em seu papel de coadjuvante.

Na semana passada, o Datafolha divulgou uma pesquisa sobre o fim da distribuição de sacolas plásticas nos supermercados do Estado. De acordo com o estudo, sete em cada dez entrevistados defendem a retomada da distribuição gratuita de sacolas plásticas.

A pesquisa indica também que quatro em dez entrevistados desistiu da compra por conta da ausência de sacolas para transporte dos produtos. E que dois terços acreditam que o fim da distribuição beneficiou os supermercados, enquanto um terço crê em benefício ambiental com a medida.

A pesquisa do Datafolha pode apontar uma tendência de comportamento, mas um detalhe precisa ser ressaltado. O estudo foi encomendado pelo Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos (Plastivida), que atende aos interesses da indústria do plástico.

É claro que isto não abala a credibilidade do Datafolha. Só reforça o argumento de que o óbvio se transforma em “novidade estatística”. A maioria dos consumidores não se acostumou e, evidentemente, ainda rejeita a mudança nos supermercados.

A Associação Paulista do setor se defende com outros números. Em declaração ao jornal Folha de S.Paulo, o presidente da entidade, João Galassi, cita o exemplo de Jundiaí, no interior do Estado. Na cidade, o consumidor teria entendido os benefícios do fim da distribuição. Em números: 77% dos clientes aprovaram o banimento, explicou Galassi.

A disputa entre a indústria do plástico e os supermercados se assemelha à rivalidade entre dois tubarões no tanque de um aquário. Enquanto os donos do espaço estão distraídos com a demarcação do território, sempre sobra espaço para os peixes pequenos se alimentarem melhor, além de que deixam de ser base da cadeia por algum tempo.

Em Santos, é possível perceber o aumento de vendas em muitas padarias, empórios e mini-mercados. Como estão fora do acordo com o Ministério Público, estes pontos de venda transformaram a distribuição de sacolinhas em sinônimo de atendimento diferenciado e fidelização de clientes. Alguns até criaram promoções diretamente ligadas à distribuição de sacolas.

Infelizmente, o debate está limitado à própria pontualidade do tema. Na verdade, exemplifica como o meio ambiente é somente um enfeite na prateleira, sem uma perspectiva aprofundada de mudança estrutural. Ou seja: os supermercados, sem as sacolas gratuitas, continuam como o paraíso de embalagens, a terra do plástico que garante segurança, beleza, qualidade e pureza aos alimentos. Simbolicamente, claro, assim como a guerra entre tubarões da mesma espécie.